Jesus à Porta
Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo. (Apocalipse 3:20)
Essas palavras de Cristo frequentemente têm sido tratadas como se fossem dirigidas a incrédulos, um chamado geral para que os de fora o convidassem para entrar em suas vidas. Pregadores têm usado a imagem de Jesus batendo à porta do coração de um pecador, esperando permissão para entrar. Isso muitas vezes é eficaz, pois qualquer tentativa de chamar os eleitos resultaria em algumas conversões. Mas o texto em si revela um cenário muito diferente. As palavras aparecem na mensagem à igreja de Laodiceia, uma congregação que havia se tornado complacente e inútil. A imagem de Jesus batendo transmite um aviso severo a uma comunidade de professos crentes que havia se acomodado em letargia espiritual. Ela os confronta diretamente, em vez de servir como uma imagem sentimental dele suplicando ao mundo.
Laodiceia se considerava rica e autossuficiente. Em termos materiais, a cidade era próspera, e a igreja refletia a mesma atitude. Eles pensavam que não lhes faltava nada. Jesus os descreveu como mornos, uma condição tão ofensiva que ele disse que estava pronto para vomitá-los da sua boca. Sua complacência os cegava para o seu verdadeiro estado. Eles eram miseráveis, dignos de compaixão, pobres, cegos e nus. As palavras de Jesus nesta passagem não são um convite aberto a forasteiros, mas uma exigência de que o seu povo se arrependa do seu orgulho e retorne à comunhão com ele.
A imagem de Jesus batendo à porta comunica confronto, urgência e promessa em um único ato. O Senhor deveria estar dentro da igreja, habitando entre o seu povo, mas Laodiceia o havia excluído por causa de sua complacência. O bater à porta expõe essa inversão. É o som de Jesus confrontando aqueles que reivindicavam o seu nome, mas excluíam a sua presença. O bater à porta também pressiona a consciência. É uma interrupção que exige atenção e força uma resposta, muito mais do que um mero sussurro. Se uma pessoa abre ou permanece fechada, isso revela a condição do seu coração e se a graça de Deus está operando. Ao mesmo tempo, o bater à porta carrega a certeza da comunhão. Cristo declara que, se alguém abrir, ele entrará e ceiará com ele. Ceiar juntos, na linguagem bíblica, significa compartilhar comunhão pactual, reconciliação e alegria. O bater à porta é, portanto, tanto um aviso quanto uma promessa, uma revelação da soberania divina e um chamado ao arrependimento. Jesus fala, e os eleitos de Deus respondem, enquanto os réprobos permanecem endurecidos em sua recusa.
Quando Jesus diz que está à porta e bate, ele não se retrata como um visitante desamparado esperando por uma acolhida. Ele confronta uma igreja com a sua autoridade. Ele adverte que, se eles persistirem em sua confiança falsa, ele os exporá e os julgará. No entanto, ele também promete que aqueles que responderem desfrutarão de uma comunhão renovada com ele. Comer com Cristo é compartilhar de sua comunhão, de sua vida e de sua bênção. A imagem é corretiva e confronta diretamente a complacência. Ela aponta para além da curiosidade religiosa ou do interesse casual, para um retorno decisivo, passando da complacência para a comunhão e do orgulho para o arrependimento.
Este trecho também ensina a relação entre a soberania de Deus e a resposta humana. O chamado de Cristo chega ao ouvido, mas se a porta é aberta depende da graça de Deus. Aqueles que ouvem e se arrependem o fazem porque Deus faz com que seus corações se voltem. Aqueles que permanecem mornos e fechados demonstram sua reprovação. A soberania divina não está ausente deste quadro. Cristo ordena à igreja, e Deus concede o arrependimento àqueles a quem ele escolheu.
A vontade do homem aparece neste texto, mas não como um poder autônomo. A vontade é a faculdade pela qual as escolhas são feitas, mas todo movimento da vontade provém da determinação de Deus. Abrir a porta para Cristo é o efeito da graça divina, em vez de um ato independente de iniciativa humana. Se a vontade não fosse real, não haveria nada a governar, mas se a vontade fosse independente, não haveria necessidade da graça de Deus. A Escritura ensina que Deus é a causa de todas as coisas, incluindo as decisões do homem. Jesus bate, e aqueles a quem Deus chama ao arrependimento respondem. Jesus bate, e aqueles a quem Deus deixa em sua cegueira permanecem fechados e condenados.
Há aqueles que pensam que a doutrina da soberania de Deus torna o arrependimento desnecessário. Alguns raciocinam que, se Deus escolheu, então não há nada a fazer, e eles se instalam na passividade. Mas essa mesma passividade prova que a graça está ausente. Quando a graça de Deus está em ação, ela produz fé, arrependimento e obediência renovada. Aquele que verdadeiramente entende a soberania divina não fica ocioso. Ele vê que o poder de Deus opera através da vontade humana, fazendo-a escolher corretamente. Quando um homem abre a porta para Cristo, é porque Deus moveu seu coração. Quando um homem mantém a porta fechada, é porque Deus o deixou em sua obstinação.
A promessa de que Jesus comerá com aquele que abre é a promessa de comunhão restaurada. Na linguagem bíblica, comer juntos significa compartilhar vida e aliança. Para o crente que se arrepende da complacência, isso significa vitalidade renovada, utilidade restaurada e comunhão íntima com o Senhor. Jesus fala de uma participação real em sua vida e bênção, muito além de sentimentos religiosos vagos. Aqueles que se arrependem pela graça de Deus experimentam a alegria de sua presença e o poder de seu Espírito. Eles não são mais mornos, mas ativos e frutíferos.
Para nós hoje, esta passagem é um aviso contra a presunção que frequentemente vem com o conforto e a estabilidade. Uma igreja pode parecer exteriormente forte, rica e influente, enquanto na verdade é espiritualmente estéril. Indivíduos podem imaginar que estão bem, que não precisam de nada, quando o próprio Jesus os declara pobres e cegos. A batida à porta é a palavra de Deus expondo essa ilusão. Quando a graça de Deus está presente, a palavra convence e leva ao arrependimento. Quando sua graça está ausente, a palavra apenas confirma a dureza do réprobo.
A força deste texto reside em seu confronto agudo. Ele transmite o discurso de Cristo a uma igreja que se tornara inútil, ordenando o arrependimento e advertindo sobre a rejeição. Ao mesmo tempo, carrega a promessa de comunhão renovada àqueles a quem Deus move para responder. A batida é graça, e a abertura também é graça. Cristo fala, e aqueles a quem Deus chama ouvem e obedecem. O resultado é a comunhão restaurada e a bênção.
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