O Romance do Sofrimento

A maneira como os homens falam sobre o sofrimento revela o quanto eles se afastaram da fé. Eles vestem sua fraqueza como se ela carregasse alguma poesia oculta, e elevam sua dor como se ela produzisse virtude. A religião batizou esse erro em uma doutrina, dizendo às pessoas que sua miséria faz parte de um romance divino. A verdade é que a maior parte do sofrimento é sem sentido, e muito dele é o resultado direto da incredulidade, do pecado ou da tolice. Ele não glorifica a Deus, mas o culpa, e não santifica a pessoa, mas a engana para que ela valorize sua própria ruína. Não há nada de romântico nisso.

Apenas o sofrimento de um homem é romântico. O sofrimento de Jesus Cristo foi cheio de propósito e poder, porque foi substitutivo. Ele sofreu por seu povo, para que eles não tivessem que sofrer da mesma maneira. Sua agonia foi nobre porque foi suportada para redimir, não para se entregar ao sentimentalismo. Sua morte foi bela porque carregava um significado eterno, não porque satisfazia os anseios melancólicos do coração humano. A cruz é romance porque une o custo mais alto com o dom mais alto. Em contraste, a dor do homem é vazia quando ele a trata como se fizesse parte da mesma história.

A tentativa de romantizar o sofrimento humano é mais do que um erro de gosto. É um insulto teológico. Se a doença, a pobreza ou o desespero que pesam sobre os homens são algo que eles devem carregar para a glória de Deus, então qual foi o propósito de Cristo carregá-los? Se a cruz significa que ele carregou os nossos pecados, as nossas tristezas e as nossas dores, então abraçá-los novamente é declarar desnecessária a sua obra. Apegar-se ao seu sofrimento como se fosse sagrado é desperdiçar o sofrimento dele, porque você prefere valorizar a sua própria miséria em vez da vitória dele. É por isso que aqueles que ensinam as pessoas a amarem a sua aflição são inimigos do evangelho. Eles incentivam os crentes a encontrarem significado onde Deus não deu nenhum, e, ao fazerem isso, roubam do Filho de Deus a honra que lhe é devida.

A maior parte do sofrimento que enche o mundo não é apenas inútil, mas vergonhoso. Um homem que comete um crime e é punido por isso não está sofrendo por causa da justiça, mas recebendo justiça. Um homem que esquece de trancar sua porta e perde seus bens para um ladrão não está suportando uma provação misteriosa, mas pagando o preço de sua negligência. Essas coisas são o fruto do pecado e do erro, não a glória de Deus. O apóstolo Pedro escreveu que, se você sofre como cristão, isso é uma bênção, mas se você sofre como criminoso, é a sua própria desonra. Ele não disse às pessoas para reinterpretarem suas más ações como atos de piedade. Ele lhes disse para pararem de pecar.

O mesmo princípio se aplica à tolice. Se uma pessoa se recusa a crer na palavra de Deus sobre a cura e permanece doente, isso não é sofrimento para a glória de Deus. É a miséria da incredulidade. Se uma pessoa se recusa a confiar em Deus pelo pão de cada dia e vive na penúria, isso não é uma provação exaltada, mas uma prisão autoimposta. A depressão é outro exemplo. Alguns cristãos leem os puritanos e outros mestres que romantizaram a melancolia, e eles pensam que o seu peso prova profundidade de espírito. Na realidade, isso prova rebelião. Eles se recusam a crer no que Deus falou, resistem à sua alegria e preferem banhar-se na tristeza como se o seu desespero lhes desse caráter. A verdade é que eles gostam de se sentir mal, porque isso os faz sentir profundos. Em sua vaidade, tornam-se devotados à sua depressão, e quando alguém aponta a sua incredulidade, eles se voltam em acusação. Eles não querem libertação. Querem preservar o romance da sua própria dor.

Jesus disse a Pedro para vir, e ele andou sobre o mar em direção a ele. Sua fé estava operando, e o milagre era real. Mas, quando olhou para o vento e as ondas, começou a afundar. Jesus não disse que ele havia entendido mal o significado histórico-redentor da declaração. Ele não disse que se tratava de outra coisa. Ele não disse que não era a vontade de Deus que ele andasse. Ele disse: “Homem de pequena fé, por que duvidaste?” O afundamento de Pedro não foi nobre. Foi um fracasso. Se você sofre por causa da incredulidade, seu sofrimento não é romântico. É vergonhoso.

Isso expõe a tolice de slogans como “não desperdice seu sofrimento”. A verdade é que o sofrimento já é um desperdício. Não há nada nele para redimir. O que deve ser evitado é desperdiçar o sofrimento de Jesus preferindo suas próprias aflições à sua obra consumada. Orgulhar-se de suas feridas é insultar suas chagas. Valorizar sua dor é ignorar sua cruz. Se você ama sua miséria, está desperdiçando sua vida em ilusões e declarando que seu sacrifício não foi suficiente.

A única abordagem sensata é amaldiçoar o sofrimento falso, rejeitá-lo e permanecer na vitória de Cristo. Você não precisa aceitar a doença que ele carregou. Você não precisa abraçar a pobreza que ele suportou. Você não precisa preservar a depressão que ele conquistou. Apegar-se a elas é viver na incredulidade. Resistir a elas é honrá-lo. Satanás vem como um ladrão, mas ele pode ser detido em nome de Jesus. Tratar o seu roubo como uma bênção é ficar do lado dele contra o seu Senhor. Resistir a ele é viver pela fé no Filho de Deus.

O romance do sofrimento pertence unicamente a Jesus Cristo. Sua morte foi o lugar onde o amor eterno se encontra com o custo eterno, e nele isso se torna a nossa salvação. No máximo, um crente pode sofrer por ele em fé e obediência, seja por perseguição ou sacrifício em nome dele. Isso é romântico, porque é direcionado a ele. Mas a maioria do sofrimento que os homens suportam é inútil. Ele vem do pecado, da incredulidade ou da tolice, e não traz nem santificação nem glória. A igreja deve parar de romantizar tal miséria. Deve parar de pregar sermões e escrever livros que incentivem as pessoas a verem seu desespero como algo belo. Deve começar a proclamar o triunfo de Cristo como o fim de tais coisas.

Quando eu não tinha esperança nem amigos, descobri que Jesus morreu por mim. Seu sofrimento foi o dom que mudou tudo, e sua morte foi o romance que entrou na minha história. Aquele foi o dia em que a miséria perdeu seu encanto, porque vi que minha dor não tinha beleza nela, mas sua dor por mim estava cheia de glória. A partir de então, a questão nunca foi se minha depressão ou pobreza ou doença carregavam significado, mas se eu acreditaria que ele as carregou para que eu pudesse ser livre. Honrá-lo significa crer nele. Crer nele significa rejeitar a ilusão de que meu sofrimento é nobre. Sua cruz foi nobre. A minha é inútil.

📖 Artigo original:

The Romance of Suffering ↗