Teologia Sub-Satânica
Quando Satanás tentou Jesus no deserto, ele apelou para as Escrituras. A tentação não foi uma invenção de sua própria imaginação, mas uma citação deliberada do Salmo 91. Satanás instigou Jesus a se lançar do pináculo do templo, dizendo que anjos o guardariam para que ele não batesse o pé contra uma pedra. Isso foi uma aplicação direta do salmo, que promete que o povo de Deus será protegido do mal, elevado pelo poder angélico e livrado do perigo. O que é notável é que o próprio Satanás assumiu que a promessa se aplicava à proteção física. Ele não tratou o salmo como simbólico de uma segurança “espiritual”. Ele o apresentou como literal.
Jesus não contestou essa interpretação. Ele não disse que o Salmo 91 tratava apenas de refúgio espiritual. Ele não sugeriu que se tratava de uma alegoria sobre a alma. Em vez disso, sua resposta confirmou a promessa do salmo ao mesmo tempo em que repreendeu a tentativa de distorcê-la. “Não ponham à prova o Senhor, o seu Deus.” A promessa era real, mas não devia ser abusada. O Filho de Deus não saltaria de um edifício para exigir que o Pai provasse sua fidelidade. Jesus reconheceu a verdade da promessa ao mesmo tempo em que condenou a distorção dela.
Esse detalhe carrega uma significância imensa. Até mesmo Satanás reconheceu o escopo literal das promessas de Deus. Ele o usou de forma errada, mas afirmou seu sentido básico. A proteção de Deus era tangível. Anjos agiriam. O corpo em si estava incluído no alcance do poder divino. A repreensão de Jesus não foi uma correção do significado, mas do mau uso. Ele não espiritualizou o texto. Ele o confirmou e o colocou em seu contexto apropriado de obediência e confiança.
A tragédia é que o cristianismo mainstream de hoje trata as Escrituras com menos respeito do que Satanás fez naquele momento. Por séculos, pregadores e teólogos têm reduzido as promessas de Deus a meras metáforas. Onde a Bíblia fala de cura, eles a redefinem como a cura da alma. Onde a Bíblia proclama prosperidade, eles a redefinem como riqueza moral ou contentamento interior. Onde a Bíblia oferece proteção, eles a reduzem a algum senso invisível de segurança, despojado de efeito físico. Em resumo, eles não tomam as promessas ao pé da letra. Eles as negam preventivamente antes mesmo de considerar como aplicá-las.
Essa abordagem vai muito além de um erro em detalhes. Ela representa uma disposição inteira em relação à palavra de Deus. Em vez de reconhecer o texto e depois distorcê-lo, como Satanás fez, os infiéis apagam seu significado desde o início. As promessas de redenção são explicadas como figuras de linguagem. Os milagres são explicados como temporários ou simbólicos para aplicação moderna. A libertação é explicada como alívio psicológico. Até mesmo a vida eterna em si é às vezes reduzida a uma metáfora. Eles despojam a Escritura de sua força, deixando apenas uma sombra do que Deus declarou.
Se Satanás reconheceu o texto de forma mais honesta do que os Sem Fé, então a teologia deles afundou abaixo do nível dele. A tentação de Satanás foi maligna, mas sua citação das Escrituras foi precisa em seu sentido. Ele era um mentiroso, mas pelo menos afirmou que o Salmo 91 prometia algo real e material. Em contraste, grande parte da teologia ortodoxa histórica nega esse fato inteiramente. Dessa forma, sua doutrina não é meramente demoníaca. É sub-demoníaca. É teologia sub-satânica.
A ironia não pode ser exagerada. Se o próprio Satanás ensinasse em seus seminários, a teologia deles melhoraria. Se ele escrevesse seus credos, os documentos conteriam mais verdade do que o que eles atualmente confessam. Ele pelo menos reteria o significado literal de promessas como o Salmo 91. Ele reconheceria que a cura se refere ao corpo, que a prosperidade se refere à abundância material, que a libertação se refere ao resgate real, e que a proteção se refere à segurança na vida. Ele então a distorceria em direção à presunção e à rebelião, como fez com Jesus. Mas ele não a eliminaria completamente. Nesse sentido, Satanás seria um teólogo mais ortodoxo do que a maioria dos professores que afirmam servir à igreja.
Homens que vestem as vestes pretensiosas de ministros ou as togas de eruditos produzem uma teologia pior que a de Satanás. Seus sistemas alegóricos esvaziam o evangelho até que reste pouco além de moralismo. Sua insistência no simbolismo esvazia as promessas de seu poder. Sua incredulidade desfila como sofisticação. Por baixo de todo o seu aprendizado humano e de toda a sua performance no púlpito, reside uma recusa em aceitar a palavra de Deus como ela se apresenta.
O problema não se limita a algumas promessas aqui e ali. Ele se estende à própria redenção. Cristo redimiu o seu povo em corpo e alma. Ele carregou as suas enfermidades, levou as suas dores, venceu a sua pobreza e triunfou sobre os seus inimigos. A sua ressurreição demonstra vitória sobre toda forma de morte e derrota. A redenção é mais abrangente do que a queda. A maldição tocou todas as partes da vida humana, e a cruz responde a todas as partes e mais. Alegorizar isso é negar a própria cruz. Dizer que a cura é apenas simbólica, ou que a prosperidade é apenas espiritual, é dizer que a obra de Cristo não tem efeito no mundo que ele veio salvar. É afirmar que a maldição permanece, inquebrantável e intocada.
A teologia ortodoxa dominante é pior que a satânica. Satanás tentou Cristo com as Escrituras, mas assumiu o seu significado. Os sem fé recusam o significado completamente. Eles alegorizam a redenção até que a salvação em si se torne pouco mais que uma metáfora para o sentimento religioso. Eles negam o alcance material das promessas de Deus e então chamam sua negação de fé e humildade. Na realidade, é a incredulidade elevada ao nível de uma doutrina. Isso produz cristãos que vivem vidas sem poder, desculpando seus fracassos como se a fraqueza fosse santidade. Isso os rouba da vitória e os cega para as riquezas de Cristo.
Uma teologia inferior a Satanás não pode sustentar a verdadeira fé. Ela não pode produzir confiança nas promessas de Deus porque despojou essas promessas de sua substância. Os homens permanecem em escravidão, e essa doutrina os persuade de que a escravidão é normal. Eles sofrem com doenças, e ela lhes diz que a doença é santificadora. Eles suportam a pobreza, e ela elogia a pobreza como piedade. Eles tropeçam na derrota, e ela proclama a derrota como aprovação divina. Isso é uma fraude inferior ao nível dos demônios. Não é o evangelho.
Considere novamente a cena no deserto. Satanás citou as Escrituras e pressionou Jesus a agir de acordo com elas. Jesus respondeu com as Escrituras e repreendeu a presunção. A troca assumia que a promessa de Deus era verdadeira e poderosa. Ambos a reconheceram, embora apenas um a usasse corretamente. Teólogos cristãos, no entanto, a negam completamente. Eles ficariam ao lado de Jesus e Satanás e objetariam, dizendo: “O salmo nunca prometeu proteção contra pedras ou quedas. Era apenas uma imagem de perseverança espiritual.” Naquele momento, eles se exporiam como mais desonestos com as Escrituras do que o próprio Satanás.
Cristãos devem derrubar essa corrupção e retornar à palavra de Deus como ela está. Suas promessas não são meras figuras, mas realidades vivas. Cura, prosperidade, proteção, libertação, vitória e vida eterna não são símbolos a serem admirados, mas bênçãos a serem recebidas. Cristo as comprou com o seu sangue. Negá-las é negá-lo. Alegorizá-las é desprezar a redenção de Deus. É pregar e receber outro evangelho, um evangelho que não pode salvar. Promessas que se referem a bênçãos físicas nas Escrituras permanecem físicas em seus efeitos. Até os demônios admitem isso. Teologia que as rejeita é pior que demoníaca. É sub-satânica.
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