Satã, o Ladrão
O ladrão vem apenas para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância. (João 10:10)
Jesus traça um contraste nítido entre a sua missão e a missão daquele a quem ele chama de ladrão. O ladrão é um adversário pessoal com intenção consciente, não uma metáfora para dificuldades abstratas ou os problemas gerais da vida. Satanás avança com propósito, visando tomar o que Deus deu, ferir o que Deus criou e apagar o que Deus abençoou. A Escritura atribui a ele corrupção moral e engano doutrinário, e também o acusa de infligir sofrimento físico. Jesus apontou para uma mulher encurvada por dezoito anos e disse que Satanás a havia prendido. Pedro resumiu o ministério de Jesus como andar fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo diabo. A opressão nesses textos inclui doença, deficiência e enfermidade. O roubo e o assassinato do ladrão invadem o corpo e a mente, não apenas a alma.
Se o ladrão tira a saúde, então a missão de Jesus de dar vida deve responder no mesmo terreno. O paralelo é sustentado pelas próprias palavras do Senhor. Ele não colocou a obra do ladrão no reino tangível e depois restringiu o seu próprio dom a uma experiência invisível que nunca toca o corpo. O ladrão destrói de maneiras concretas, então o Pastor restaura de maneiras concretas. As duas missões correspondem em escopo, enquanto se opõem totalmente em propósito. Afirmar que Jesus veio para salvar a alma, mas deixar o corpo afligido, quebra a simetria que ele afirma e reduz a sua promessa a retórica. Tal leitura descarta o sentido claro da declaração e o substitui por um brilho místico que evade o óbvio. O texto carrega uma lógica direta, e a lógica aponta para a vida que alcança a pessoa inteira.
Esse tipo de negação faz mais do que perder uma nuance. Ela repete o antigo instinto gnóstico que trata o mundo material como trivial ou corrupto e insta por uma salvação excessivamente espiritualizada. Um professor que insiste que Jesus resgata a alma enquanto ignora o corpo adota uma premissa estranha à Escritura e amigável à heresia. Ele pode alegar defender a piedade contra o materialismo, no entanto, a alegação se alinha com uma filosofia que nega a bondade da criação e esvazia a encarnação de significado. Vida abundante que exclui a saúde imagina plenitude onde o corpo permanece esmagado, o que é irracional e não bíblico.
Os Evangelhos apresentam um Senhor que aborda o sofrimento físico com autoridade e compaixão. Ele tocou leprosos, deu visão aos cegos, fez os coxos andarem e chamou os mortos de volta à vida. Esses atos expressavam sua mensagem; eles não distraíam dela. Eles exibiam a verdade de que ele veio para dar vida em abundância, não uma sobrevivência magra que deixa o corpo definhar. Cada cura mostrava o desfazer da obra do ladrão. Cada restauração declarava que o reinado do opressor estava sendo desmantelado e que o reinado de Deus havia chegado.
Para o crente, a doença pertence ao inventário de coisas que o ladrão se deleita em impor. O juízo sadio evita uma inferência grosseira de que toda doença deve ser um caso de possessão demoníaca direta. A Bíblia traça a origem da doença até a corrupção que Satanás operou no mundo, ao mesmo tempo que registra instâncias específicas em que o seu jugo estava por trás da condição de uma pessoa. A sabedoria reconhece ambos. Nessa luz, a promessa de Jesus de dar vida é uma promessa de reverter a obra do ladrão em todos os aspectos em que o ladrão a operou. A saúde está dentro do território que Cristo veio reclamar, não fora dele.
Quando os cristãos negam isso, eles fazem mais do que baixar as expectativas. Eles estreitam a missão do Senhor e leem as suas palavras através de uma lente que ele nunca usou. Eles reduzem o dano que o ladrão causou e obscurecem o remédio que Cristo forneceu. A fé identifica o inimigo pelo que ele é, recebe o Salvador pelo que ele é e extrai do Salvador o que ele veio dar. O ladrão da saúde chega para roubar e matar; o Senhor da vida chega para restaurar e multiplicar. Qualquer doutrina que se contenta com menos lê o versículo como se o ladrão fosse mais forte do que o Pastor e como se o Pastor estivesse satisfeito em deixar o seu rebanho mutilado. Jesus veio para desfazer as obras do diabo inteiramente, incluindo as obras alojadas no corpo.
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