**Extrapolar a Fé**

E eles começaram a discutir entre si, dizendo: “É porque não trouxemos pão”. Percebendo isso, Jesus disse: “Homens de pequena fé, por que vocês estão discutindo entre si sobre não terem pão? Vocês ainda não entendem? Não se lembram dos cinco pães para os cinco mil e de quantas cestas recolheram? Nem dos sete pães para os quatro mil e de quantas cestas recolheram? Como é que vocês não entendem que não era de pão que eu estava lhes falando? Mas, cuidado com o fermento dos fariseus e dos saduceus”. (Mateus 16:7–11)

Os discípulos certa vez esqueceram de levar pão, e durante a viagem Jesus lhes disse: “Cuidado com o fermento dos fariseus.” Eles presumiram que ele estava falando sobre o erro deles, e começaram a sussurrar que ele devia estar os repreendendo por não terem pão. Mas Jesus os confrontou com uma repreensão ainda mais severa. Ele os lembrou das multidões que haviam sido alimentadas com poucos pães, e das cestas de pedaços que sobraram depois. Então, perguntou-lhes por que ainda estavam falando sobre pão. O problema não era o pão. O problema era a incredulidade deles.

O erro dos discípulos consistia em tratar a comida como um problema real na presença de Cristo. A fé teria descartado o assunto por completo. Após verem milhares de pessoas alimentadas com poucos pães e peixes, o raciocínio deles deveria ter sido resolvido. A comida nunca mais seria um problema onde Jesus estivesse envolvido. Se ele dissesse algo sobre pão, isso certamente significaria algo além do literal. Mas, porque não haviam resolvido esse ponto pela fé, suas mentes se fixaram na preocupação errada. Eles falharam em reconhecer que, quando Deus age de uma certa maneira, a fé nos exige extrapolar. O milagre provou que a comida nunca poderia ser uma ameaça, de modo que as palavras dele sobre o fermento deviam se referir a algo mais. O fracasso deles não foi apenas o mal-entendido, mas a recusa em deixar que a fé guiasse sua interpretação.

Isso expõe um princípio crucial sobre os milagres de Cristo. Se o milagre da multiplicação dos pães para as multidões tivesse sido nada mais do que um espetáculo para exibir a identidade de Jesus, então os discípulos não teriam razão para esperá-lo novamente. Eles só poderiam admirá-lo como uma demonstração passada de poder sem aplicação a circunstâncias futuras. A fé não teria base para esperar pão para amanhã. Mas Jesus não permitiu que eles pensassem dessa maneira. Ele os repreendeu porque eles não assumiram que o milagre era repetível. Sua correção prova que os milagres não eram sinais arbitrários destinados a uma autenticação única, mas demonstrações de poder divino destinadas a formar a base para a expectativa.

A alimentação das multidões não foi aleatória ou ocasional. Não foi uma demonstração soberana no sentido de que poderia acontecer ou não, sem conexão com qualquer outra coisa. Ela se baseava na natureza e no poder de Deus, que nunca mudam. Ela se baseava na compaixão de Cristo, que nunca falha. Por essa razão, Jesus esperava que os discípulos concluíssem que, se ele alimentou as multidões uma vez, faria isso novamente sempre que necessário. O problema não era que a comida tivesse acabado. O problema era que os discípulos falharam em raciocinar a partir do caráter de Deus para a ação de Deus. Eles trataram o milagre como um evento isolado, quando na verdade era uma revelação do reino que governaria toda situação futura.

O milagre da multiplicação dos pães também demonstra que os milagres são úteis em si mesmos. Eles fazem mais do que apontar para Cristo; eles alimentam os famintos e curam os doentes. Quando Jesus forneceu pão, ele não apenas mostrou que era o Filho de Deus. Ele deu comida para as pessoas comerem. Quando ele curou os cegos, ele não apenas simbolizou luz e verdade. Ele lhes deu olhos que funcionavam. Pensar nos milagres como se fossem apenas atos simbólicos de autenticação os esvazia de seu significado direto e prático. A utilidade dos milagres é a razão pela qual eles acontecem. Deus cura porque pretende que os doentes fiquem bem. Ele multiplica o pão porque pretende que os famintos comam. Ele liberta porque pretende que seu povo seja livre. Os efeitos são exatamente o resultado que Deus pretende trazer. Os milagres são realizados pelos benefícios que proporcionam, e a fé deve esperar esses benefícios sempre que a necessidade ou o desejo surgir.

É por isso que Jesus certa vez disse aos discípulos: “Deem-lhes vocês mesmos de comer”. Ele não quis dizer que eles deveriam encontrar uma loja ou assar mais pão. Ele quis dizer que eles deveriam participar do milagre. Eles levaram os pães até o povo e observaram enquanto a comida se multiplicava em suas mãos. O milagre se estendeu por meio deles, não à parte deles. Isso mostra que os milagres não estão restritos apenas a Jesus, como se fossem eventos únicos ligados somente ao seu ministério pessoal. Eles eram sinais do reino e dons do poder de Deus que ele pretendia estender por meio de seus seguidores. Tratá-los como provas únicas ou relegá-los ao passado é contradizer o que o próprio Jesus esperava. Sua repreensão mostra que ele os considerava responsáveis por assumirem que o milagre poderia ser repetido e aplicado.

A fé raciocina a partir do que Deus fez para o que ele fará novamente. Se ele curou antes, então ele cura novamente. Se ele proveu antes, então ele provê novamente. Se ele perdoou antes, então ele perdoa novamente. A fé não considera os atos de Deus como interrupções raras do mundo, mas como revelações da ordem do reino. Os discípulos deveriam ter pensado: “Como ele multiplicou o pão ontem, a comida nunca pode ser um problema hoje.” Qualquer coisa menos que isso era incredulidade. O raciocínio deles deveria ter sido levado adiante pelo que já haviam visto. Em vez disso, eles pararam no medo e expuseram o quão pouco haviam aprendido.

Esse princípio se aplica a todos os crentes. Quando Deus agiu uma vez, a fé o aplica a toda necessidade futura. Ela não trata as promessas dele como incertas ou os atos dele como irrepetíveis. Milagres devem ser esperados, não apenas admirados. Eles representam a manifestação do governo de Deus, e nunca devem ser tratados como eventos excepcionais. O crente que viu a obra de Deus no passado nunca deve enfrentar o futuro como se ele fosse vazio e imprevisível. A fé pressupõe que o mesmo poder agirá novamente, porque o mesmo Deus permanece presente. Seja a necessidade alimento, cura, orientação ou livramento, a lógica da fé é a mesma. Deus o fez, portanto Deus o fará. Sua palavra o assegura, e sua natureza o garante.

A repreensão de Jesus aos discípulos foi, portanto, uma lição de fé e de razão. Eles deveriam concluir, a partir da alimentação das multidões, que o pão nunca mais seria uma preocupação. O fracasso deles em fazer isso foi uma negação da própria lição que o milagre pretendia ensinar. Aquele que viu Cristo agir deve pensar em termos de aplicação, nunca de isolamento. Os milagres são tanto prova quanto provisão. Eles revelam quem Jesus é, mas também fornecem o que as pessoas precisam e desejam. A fé compreende ambos os lados e os estende a toda circunstância. Foi por isso que Cristo repreendeu seus discípulos, e é por isso que o mesmo princípio nos confronta hoje. Pensar que o poder de Deus era apenas para aquele momento, ou apenas para uma situação, é incredulidade. Raciocinar a partir do que ele fez para o que ele fará novamente é a lógica da fé.

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Extrapolating Faith ↗