Dois Tipos de Hipocrisia

A acusação mais comum contra a religião é a hipocrisia. Até mesmo os incrédulos que pouco se importam com a verdade ou a justiça sabem denunciar a hipocrisia. O problema deles, é claro, é que eles mesmos são hipócritas. Eles acusam os outros exatamente daquilo que os define. No entanto, a hipocrisia é real e perigosa, e a Bíblia a denuncia nos termos mais fortes possíveis. Ela não é apenas uma falha moral, mas uma rejeição direta da palavra de Deus. Aqueles que persistem nela mostram que não pertencem a Cristo, não importa qual confissão façam com os lábios.

Quando as pessoas falam de hipocrisia, geralmente querem dizer uma coisa. Elas querem dizer que uma pessoa elogia as bênçãos do evangelho enquanto nega a autoridade de Deus sobre ele. Isso é de fato hipocrisia. Um homem que se alegra no perdão mas recusa-se a se arrepender, que elogia a graça enquanto despreza a santidade, vive uma mentira. Ele quer o fruto da árvore sem a raiz, a herança sem o Filho. Esse tipo de hipocrisia está em toda parte, e leva multidões à destruição.

Mas há outro tipo de hipocrisia. Uma pessoa pode apegar-se às obrigações enquanto rejeita as bênçãos. Ele pode falar interminavelmente sobre autonegação, carregamento da cruz ou deveres morais, enquanto despreza a cura, a paz, a alegria, a abundância e o poder. Ele finge honrar os mandamentos enquanto pisoteia as promessas. Ele mantém suas tradições e escrúpulos, mas despreza o verdadeiro evangelho. Ele alega crer em Cristo, mas apenas no Cristo que exige. Ele não tem interesse no Cristo que dá. Essa hipocrisia é mais sutil e ainda mais mortal. Ela mutila o evangelho ao cortar dele a fé e a graça. E então vemos que realmente não sobra nada.

Ambos os tipos de hipocrisia cometem o mesmo crime essencial: eles alteram a palavra de Deus. Alguns distorcem a sua palavra para eliminar o pecado. Eles redefinem termos até que o que Deus chama de perverso seja celebrado como justo. Eles dizem que não têm pecado, não porque foram purificados, mas porque manipularam a linguagem para se desculpar. Eles mudam a doutrina para se adequar aos seus desejos e, então, declaram que Deus aprova o que eles amam. As pessoas desfrutam da sua perversão, por isso reescrevem a palavra de Deus para chamá-la de santa. Eles até dizem que Deus os aplaude. Essa é a hipocrisia em sua forma mais descarada.

Outros mudam a palavra de Deus para desculpar sua fraqueza. Sua experiência é impotente, doentia e estéril. Em vez de deixar que as Escrituras definam suas expectativas, eles deixam que sua falta defina sua teologia. Eles dizem que os milagres acabaram, que o poder não é mais para hoje, que a fé realiza pouco ou nada. Dessa forma, eles alteram a palavra de Deus para se adequar aos seus fracassos. Eles até se congratulam por serem realistas, maduros e bíblicos, quando na verdade são infiéis, hipócritas e enganosos.

A verdadeira fé faz o oposto. Ela não adapta a palavra de Deus à experiência. Ela adapta a experiência à sua palavra. A fé toma as promessas de Deus como definição e padrão. Ela insiste que a palavra de Deus é verdadeira mesmo quando a experiência grita o contrário. A fé espera cura porque Deus a prometeu. A fé espera abundância porque Deus a prometeu. A fé espera livramento, poder, milagres e vitória porque a sua palavra os garante. A fé é lealdade às promessas, bem como aos mandamentos.

As Escrituras dizem: “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá.” Se você semear incredulidade, colherá incredulidade. Se você semear a doutrina da doença, colherá doença. Se você substituir Deus pelos poderes desta terra, ele o substituirá por outro no céu. A hipocrisia não fica impune. Ela traz o seu próprio julgamento.

A hipocrisia dos religiosistas ilustra isso. Eles usam a vontade de Deus como desculpa para evitar a obediência. A Bíblia diz para orar com fé pela cura. A Bíblia diz que isso certamente acontecerá. Mas eles respondem com engano: “Sim, Deus cura, se for a sua vontade.” Isso não é nada mais do que incredulidade e rebelião vestidas em linguagem religiosa. É o mesmo que dizer: “Eu vou acreditar depois que acontecer, mas não antes.” É o exato oposto da fé. Se a cura vier, eles dizem: “Louvado seja Deus, era a sua vontade.” Se a cura não vier, eles dizem a mesma coisa. Em ambos os casos, eles se recusaram a acreditar na palavra de Deus e, em seguida, se congratulam como se tivessem sido espirituais. Essa é a hipocrisia do pior tipo.

O cessacionista comete o pior crime. Ele crucifica Cristo repetidamente ao rejeitar as bênçãos que o seu sangue comprou. Cura, milagres e dons de poder não são benefícios secundários, mas o evangelho. Cristo levou sobre si as nossas enfermidades. Cristo prometeu poder do alto. Desprezar essas coisas como indignas do evangelho é pisotear o próprio Cristo. É tratar o seu sangue como sem valor e a sua aliança como uma mentira. O cessacionista pega a cruz e arranca o seu significado, depois finge honrá-la. Isso é hipocrisia.

Alguns defendem essa hipocrisia com apelos à soberania divina. Eles dizem que Deus está no controle, e se ele quiser a cura, ela virá. Isso soa piedoso, mas contradiz as Escrituras. A mesma Bíblia que ensina a soberania de Deus também ordena a oração, promete respostas e descreve milagres como normais. Se a sua doutrina da soberania de Deus contradiz a interação com Deus como as Escrituras a descrevem, então você está errado. A verdadeira teologia não pode colocar Deus contra a sua própria palavra.

A Bíblia é, na verdade, uma repreensão maciça à religião sem fé. Toda promessa, todo mandamento para crer, toda palavra que exalta a fé sobre a visão, representa um insulto divino à sua hipocrisia. A Escritura é o dedo do meio de Deus ao teólogo que diz: “Isso só acontecerá se Deus quiser.” Deus já revelou sua vontade. A única questão é se você vai acreditar nisso.

A retórica contra esses erros deve ser forte, até mesmo ofensiva. Alguns dizem que devemos suavizar nossa linguagem. Eles dizem que é apenas uma diferença de tradição. Eles chamam isso de uma questão denominacional, como se fosse apenas uma questão de gosto ou de grupo. Eles não têm ideia do que está em jogo. Isso diz respeito ao próprio evangelho. Comprometer-se nisso é rejeitar o evangelho. Desculpá-lo é trair Cristo.

O hipócrita pode dizer que ama a Cristo. Ele pode exibir sua reverência pela soberania de Deus. Ele pode usar suas obrigações como um distintivo de honra. Mas se ele recusa as bênçãos, se nega as promessas, se altera a palavra de Deus para se adequar ao seu fracasso, então sua fé é uma mentira. O hipócrita que aceita as bênçãos mas rejeita a autoridade de Deus perecerá. O hipócrita que aceita as obrigações mas rejeita as bênçãos de Deus perecerá também, porque nunca creu em Deus em primeiro lugar. Cristo salva apenas aqueles que abraçam o evangelho, e há apenas um evangelho.

📖 Artigo original:

Two Kinds of Hypocrisy ↗