A Linguagem da Imanência

Cristãos frequentemente enfatizam a transcendência de Deus como se essa fosse a forma mais elevada de honrá-lo. Eles insistem que, para glorificá-lo, devemos falar de sua exaltação acima do mundo, de sua natureza eterna e de seus decretos antes do tempo. Essas verdades merecem ser ensinadas, mas quando elas dominam nossa linguagem, podem deixar a impressão de que Deus está distante de nós. Então, a linguagem da imanência, como Deus está aqui, Deus age agora, Deus cura hoje, soa deslocada ou até imprópria. Esse descuido é lamentável, porque a própria Escritura dá testemunho abundante da proximidade de Deus e de seu envolvimento direto na vida de seu povo. Para recuperar a fala bíblica e a fé bíblica, devemos aprender a falar da imanência de Deus com a mesma prontidão com que falamos de sua transcendência.

O testemunho das Escrituras sobre a imanência divina é avassalador. Isaías declarou que o Alto e Sublime, que vive para sempre, cujo nome é santo, habita no lugar alto e santo, mas habita também com o contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao coração do contrito. No Êxodo, Deus disse que desceu para livrar Israel das mãos dos egípcios, e o fez por meio de poderosos sinais e maravilhas. Lucas registra que o poder do Senhor estava com Jesus para curar os doentes enquanto ele ensinava, mostrando que a presença divina era tanto uma doutrina verdadeira quanto uma realidade tangível. Pedro disse a um homem paralítico: “Eneias, Jesus Cristo o cura!”, uma declaração de poder e presença imediatos. Após a ressurreição, Pedro pregou que viriam tempos de refrigério da parte do Senhor. A igreja primitiva orou para que Deus estendesse a sua mão para curar e realizar sinais e maravilhas por meio do nome do seu santo servo Jesus. Essas expressões ocorrem ao longo das Escrituras e formam um modo consistente de fala bíblica. Os profetas, os apóstolos e o próprio Cristo falavam como se Deus estivesse presente e ativo em seu meio, e esperavam que seus ouvintes acreditassem nisso.

Deus é eterno, infinito e exaltado acima da criação. Ele habita a eternidade e existe antes dos séculos. Mas esse mesmo Deus se revela como presente na história, no espaço e no tempo, para abençoar o seu povo. As duas verdades permanecem juntas como expressões harmoniosas do único Deus. A natureza divina não é diminuída quando ele se aproxima. Sua grandeza é demonstrada em sua condescendência. A encarnação de Jesus Cristo é a suprema expressão disso. O Verbo eterno se fez carne e habitou entre nós. O Deus transcendente se revelou em forma humana, curando, ensinando e morrendo pelos nossos pecados. Falar da imanência de Deus o exalta, pois proclama que o eterno que habita a eternidade também revela sua grandeza ao descer até nós.

A fé é despertada quando Deus é proclamado como presente e ativo. Quando a pregação diz: “Deus vai curá-lo hoje”, ou “Deus está aqui para salvar”, isso traz a realidade de Deus para o momento presente. Quando a oração pede: “Estende a tua mão”, ou “Que a tua presença refresque”, não está inventando novas frases, mas repetindo o vocabulário das Escrituras. Essa é a linguagem que constrói confiança. Em contraste, alguns pregadores usam indevidamente doutrinas de transcendência e soberania divina para derrubar a fé. Eles falam de Deus como distante, arbitrário ou passivo, como se sua soberania fosse uma desculpa para a inatividade. Isso é uma distorção. A soberania de Deus deve fortalecer a fé, porque garante que, quando ele age, nada pode resisti-lo. Mas para a pregação e a oração, a linguagem da imanência deve prevalecer, porque fala às pessoas onde elas estão e as chama a confiar na presença imediata de Deus.

A linguagem da imanência deve ser o modo normal de expressão na maioria das situações, incluindo a pregação, a oração e a instrução dos crentes. Ela reflete como a própria Escritura fala. A linguagem da transcendência encontra seu lugar natural quando explicamos a natureza eterna de Deus, quando ensinamos a eleição e a predestinação, e quando abordamos questões filosóficas sobre os seus decretos. Essas verdades pertencem ao sistema de doutrina e não devem ser negligenciadas. Mas, quando nos dirigimos à vida cotidiana da igreja, quando buscamos inspirar a fé, devemos falar como os apóstolos fizeram: “Jesus Cristo o cura”, “A presença do Senhor está aqui”.

Negligenciar a imanência divina produz consequências sérias. Quando os cristãos são ensinados apenas em termos de transcendência, eles pensam em Deus como distante de suas vidas. Eles podem confessar que ele é eterno, mas duvidam que ele intervém em sua necessidade presente. Quando a transcendência é enfatizada em detrimento da imanência, a fé na oração e nos milagres carece do contexto e suporte adequados. Isso é um cristianismo distorcido, porque o evangelho em si proclama que Deus se aproximou. Cristo é Emanuel, Deus conosco. Privar os crentes da imanência divina é privá-los do próprio coração da mensagem.

Deus é eterno, infinito e exaltado. Ao mesmo tempo, ele está presente, ativo e próximo. Essas verdades são consistentes, não opostas. Honrar a Deus não é apenas falar de sua eternidade, mas também declarar sua presença. Devemos afirmar com alegria que Deus está aqui, que Deus cura e que Deus refresca o seu povo. A verdadeira adoração e ministério o exaltam como eterno e presente, infinito e próximo. Esta é a linguagem que as Escrituras nos dão, e esta é a linguagem que desperta a fé.

📖 Artigo original:

The Language of Immanence ↗