A Igreja Não Pode Salvar

Cristãos frequentemente exaltam a religião corporativa como se sua própria estrutura garantisse santidade e verdade. Eles imaginam que juntar-se a uma comunidade, participar de seus rituais e alinhar-se com seus costumes deve trazer benefício espiritual. Em algumas tradições, eles até repetem o ditado de que não há salvação fora da igreja. Essa tem sido a doutrina do Catolicismo Romano e da Ortodoxia Oriental, e também tem sido ecoada por certos Protestantes, especialmente dentro das tradições Reformada, Anglicana e Luterana, onde a salvação é frequentemente descrita como inseparável da igreja visível e de suas ordenanças. Tal afirmação coloca a instituição no centro do plano de Deus, como se a salvação dependesse da igreja em vez de Cristo. É verdade que Deus deu a igreja para instrução, comunhão e o exercício de dons espirituais. Mas a igreja em si não salva ninguém, e a religião corporativa em si não resolve nada. O que importa é a fé daqueles que se reúnem, e o que importa acima de tudo é o vínculo direto entre o indivíduo e Cristo.

Os fariseus personificavam a religião corporativa. Eles impunham a unidade na doutrina e na prática, e se cercavam de elaborados sistemas de adoração. Mas o sistema deles era tão corrupto que Jesus disse que eles percorriam terra e mar para fazer um convertido e, quando conseguiam, tornavam-no duas vezes mais filho do inferno do que eles mesmos. Ele não considerava a forma corporativa deles como um sinal de força, mas como uma maquinaria de condenação. Ele a expôs e veio para libertar as pessoas de sua escravidão. A presença de uma religião organizada não significava a presença de Deus. No caso deles, significava o oposto.

Formas corporativas não são necessariamente más, mas nunca são inerentemente boas. Quando as pessoas se unem na incredulidade, sua força combinada frequentemente amplifica a rebelião. A Torre de Babel mostra isso. Homens se reuniram em uma só voz e um só propósito, mas sua unidade era contra Deus. O Senhor mesmo declarou que nada do que planejassem lhes seria negado, por isso ele os dispersou. A dispersão foi o julgamento de Deus, quebrando o poder de uma apostasia unificada. Energia corporativa sem fé não abençoa, mas destrói.

A reforma não é suficiente quando um sistema corporativo foi construído sobre uma base falsa. Uma base defeituosa não pode sustentar um novo edifício. Quando o vinho é novo, ele requer odres novos. Se os homens o derramarem em odres velhos, os odres se rebentam e o vinho se desperdiça. A tentativa de preservar a forma antiga resulta em uma perda ainda maior. Assim é com a religião: uma instituição corrompida não pode ser salva por remendos ou revisões. Ela deve ser abandonada e deixada para trás. Alguns dentro dela nunca crerão, e eles se apegarão à forma até que a própria forma pereça. Aqueles que confiam em Deus não devem afundar com eles. A fé pode exigir separação. Permanecer com Cristo às vezes requer posicionar-se contra a multidão.

O slogan de que não há salvação fora da igreja deve ser rejeitado. Não há salvação na igreja de forma alguma, se por igreja se entende a instituição como uma comunidade de homens. Dizer que Cristo está vinculado à igreja é tornar a igreja maior que Cristo. É dizer que o Salvador não pode salvar a menos que uma organização humana permita. A salvação vem somente de Deus por meio de Jesus Cristo, e é recebida pela fé. A igreja pode servir como um lugar de adoração e instrução, mas não confere a vida eterna. Somente Cristo faz isso. Inserir a igreja como uma condição de salvação é substituir o evangelho por uma falsificação.

A história de Israel comprova isso. O povo seguiu Moisés para fora do Egito, passou pelo mar, recebeu a circuncisão e viveu sob a aliança. Eles formaram uma comunidade corporativa, e até participaram do batismo na nuvem e no mar. Mas Deus os derrubou no deserto porque eles nunca creram nele. Sua identidade corporativa não os salvou. Eles pereceram como um grupo porque rejeitaram sua palavra. Apenas Josué e Calebe entraram na terra, e o fizeram porque confiaram na promessa de Deus. Eles foram odiados pela comunidade, até ameaçados de apedrejamento, mas Deus os preservou. Sua salvação não foi o resultado de associação corporativa, mas de fé individual.

O mesmo princípio continua sob a nova aliança. Uma pessoa pode pertencer a uma congregação, frequentar seus cultos e confessar seu credo, mas permanecer na incredulidade e na condenação. Outra pessoa pode ser rejeitada pela congregação, expulsa por confiar na palavra de Deus contra suas tradições, e ainda assim ser honrada por Deus como seu filho. A igreja não é para o propósito de salvação, mas para a proclamação da salvação. O indivíduo deve crer, quer esteja com muitos ou sozinho. Deus pode salvar através do ministério da igreja, mas também pode salvar à parte dela, e muitas vezes opera de forma mais clara fora de seus limites quando a instituição em si se torna hostil à fé. Assim como Cristo curou fora da sinagoga, ele ainda opera diretamente na vida daqueles que creem nele, sem ser impedido pela burocracia religiosa.

A igreja, corretamente entendida, não é projetada para impedir, mas para encorajar a fé. Seu propósito é ensinar, edificar e proporcionar uma comunhão onde os dons do Espírito possam servir ao bem de todos. Nesse sentido, a reunião coletiva é valiosa e ordenada. Mas seu valor é instrumental, não intrínseco. Seu verdadeiro poder reside apenas em direcionar os indivíduos a Jesus Cristo. Uma vez que se substitui por Cristo, torna-se um ídolo. Então, deve ser resistida. Os fiéis devem estar prontos para ficar sozinhos, confiantes de que a salvação vem pelo próprio Cristo e não pela multidão.

Isso não torna a espiritualidade corporativa desnecessária. Isso a coloca em sua ordem apropriada. A igreja existe para servir à fé, não para substituí-la. A reunião existe para magnificar Cristo, não para eclipsá-lo. Uma congregação de crentes é uma bênção quando incentiva a obediência, mas torna-se uma maldição quando impõe a incredulidade. Aqueles que têm fé devem reconhecer a diferença. Eles devem discernir se sua participação fortalece ou sufoca sua confiança em Deus. Se a comunidade os impulsiona em direção a Jesus, eles devem se alegrar nela. Se ela os afasta, eles devem ter paz para se opor a ela, sabendo que a vida eterna não repousa na aprovação da multidão, mas na promessa de Deus.

A religião corporativa não é melhor em si mesma. Ela pode ser um instrumento de bênção ou de ruína. Seu valor depende inteiramente de se ela fomenta a fé em Cristo. O assunto decisivo é sempre o coração individual perante Deus. A salvação não é mediada pela multidão. Ela não é encontrada em instituições ou rituais. Ela é encontrada somente em Jesus Cristo, recebida pela fé. Quem crê nele tem a vida eterna, quer seja abraçado pela comunidade ou rejeitado por ela. Quem o recusa já está condenado, mesmo que pertença à igreja mais venerável da terra. Esta é a verdade que humilha o orgulho humano e engrandece a graça divina.

📖 Artigo original:

The Church Cannot Save ↗