O Próprio Pregador

Uma ideia comum circula entre os cristãos de que a melhor pregação ocorre quando o pregador desaparece no plano de fundo e permite que a Bíblia fale por si mesma. Essa afirmação atrai pessoas que equiparam humildade com autoapagamento. Parece piedosa, mas sua lógica é fatalmente falha. Siga-a até sua conclusão, e o resultado é absurdo. Se o ideal é remover o pregador o máximo possível, então o melhor sermão seria a reprodução de uma Bíblia em áudio. A gravação conteria apenas as palavras das Escrituras, sem a personalidade, opinião ou interpretação do ministro. Por essa definição, ela superaria o trabalho de qualquer pregador humano.

Deus ordenou a pregação de sua palavra, não a substituição da pregação por uma leitura mecânica. Ele designou homens para entregar a verdade pessoalmente. Ele projetou o ato de pregar para incluir o homem que prega. O pregador faz parte do processo. O ato envolve uma voz viva, uma mente pensante e um coração crente. Uma Bíblia em áudio pode conter o texto puro das Escrituras, mas não é pregação.

A pregação é mais do que uma transmissão neutra de informações. A Bíblia é a fonte e a autoridade. O sermão deve se conformar a ela em todos os aspectos. No entanto, a pregação em si é um ato vivo no qual a verdade é trazida por meio de um homem a uma audiência. Deus opera por meio do pregador, assim como por meio do texto. O pregador não se apaga da mensagem. Sua fé, seu entendimento e sua obediência moldam a forma como a mensagem é transmitida. O sermão é bíblico em conteúdo, mas também é pessoal em sua expressão.

Isso sempre foi o padrão de Deus. Os profetas falaram a palavra do Senhor como homens que haviam estado em seu conselho. Os apóstolos pregaram o que haviam recebido de Cristo, mas o falaram como homens que haviam vivido a verdade. O desígnio de Deus não é ignorar o homem, mas preparar e usar o homem.

Uma visão defeituosa da pregação produz uma prática defeituosa. Um homem que se considera irrelevante para o sermão aproximar-se-á do púlpito como um mensageiro desapegado. Ele pode trabalhar no texto do sermão, mas negligenciará o trabalho em si mesmo. Sua preparação será acadêmica, sua entrega mecânica. A deficiência vai mais fundo do que o estilo ou o tom. Sua própria vida esvaziará a mensagem. Tal pregação pode informar, mas não penetrará. Pode ser precisa em palavras, mas faltará o poder espiritual e milagroso que Deus concede quando um homem prega a partir de uma fé e obediência pessoais.

O conteúdo do sermão em si sofre quando o pregador está despreparado como homem. A Escritura permanece perfeita, mas a maneira como o pregador seleciona, explica e aplica depende de seu próprio conhecimento e fé. Um homem superficial produz uma pregação superficial. Um homem carnal produz uma pregação comprometida. Os ouvintes recebem menos do que a Bíblia contém porque o pregador em si tem menos do que a Bíblia oferece. O homem é o vaso através do qual a palavra flui, e a qualidade do vaso afeta o fluxo.

O caminho para uma pregação mais forte passa pela melhoria do próprio pregador. Cresça no conhecimento das Escrituras, e o conteúdo se aprofundará. Cresça na obediência, e a autoridade aumentará. Cresça na fé, e a pregação carregará o poder do Espírito. Todo avanço em santidade, sabedoria e maturidade fortalece a mensagem. O sermão se torna um transbordamento daquilo que o pregador creu e provou. Não é uma recitação de fatos de uma mente descomprometida, mas uma declaração de uma vida transformada.

Paulo disse a Timóteo para vigiar de perto sua vida e sua doutrina. Ambas importam, e ambas estão conectadas. Ao guardar sua própria vida, Timóteo guardaria a verdade em sua pregação. Ao apegar-se à sã doutrina, ele salvaguardaria seu próprio andar com Deus. As duas não podem ser separadas sem danificar ambas. A vida do pregador reforça o sermão, e o sermão reflete a vida.

Deus chama os pregadores para serem mais do que repetidores de sílabas sagradas. Ele os chama para serem homens moldados pela verdade, homens cujas vozes carregam convicção porque falam como aqueles que creram. O objetivo não é apagar o pregador do sermão, mas transformá-lo de tal modo que todo o seu ser se torne um instrumento fiel da mensagem de Deus. Por meio de tal pregação, Deus traz arrependimento, fé, obediência e milagres. A palavra vem com explicação e convicção, conhecimento e poder.

A melhor pregação, então, não acontece quando o pregador desaparece. Ela acontece quando o pregador aparece como o homem que Deus o fez ser, um homem cheio de verdade e vivo com fé. Uma Bíblia em áudio de fato entrega a palavra de Deus, e ela poderia beneficiar todos aqueles que a ouvem, de modo que conversões e milagres possam ocorrer. Mas isso não é pregação. Deus escolheu homens para falar, e ele opera no homem para que a mensagem seja tanto bíblica quanto viva. O pregador em si deve se tornar o sermão.

📖 Artigo original:

The Preacher Himself ↗