Lavado por Cristo
Quem já se banhou precisa apenas lavar os pés; todo o seu corpo está limpo. (João 13:10)
As palavras de Jesus a Pedro nesta passagem revelam a posição de toda pessoa que pertence a ele. Aquele que foi lavado por Cristo está inteiramente limpo. Resta apenas a limpeza diária dos pés, a remoção da poeira de caminhar por este mundo. Essa imagem não deixa espaço para a confissão comum de que um cristão permanece um pecador da mesma forma que era antes de crer. Os apóstolos ensinam que o sacrifício de Cristo põe fim à consciência do pecado. Aqueles que afirmam seguir a Cristo, mas insistem que ainda são pecadores, rejeitam o poder do seu sangue e o colocam no mesmo nível do sangue de animais. A Carta aos Hebreus declara que os sacrifícios da Lei não podiam purificar a consciência, mas que o sangue de Cristo remove o pecado e a consciência de culpa daqueles que confiam nele. Se a consciência do pecado permanece, a fé no evangelho não ocorreu.
Aquele que foi lavado por Cristo possui um status que a Bíblia nunca aplica aos incrédulos. Um cristão pode tropeçar e cometer pecados, mas ele não é identificado como um pecador da maneira como a Bíblia usa o termo. O pecador permanece fora da aliança, condenado e alheio a Deus. O cristão permanece dentro da aliança, justo com a própria justiça de Deus. Isso não é uma questão de grau, como se a salvação movesse um homem de ser um pecador completo para um pecador parcial. É uma questão de tipo. O novo nascimento produz uma nova criatura, e uma nova criatura não é a velha criatura em uma condição ligeiramente melhorada.
Jesus disse a Pedro que recusar ser lavado por ele significa não ter parte alguma com ele. Não há parceria entre Cristo e aqueles que insistem em permanecer impuros. Aquele que foi lavado está limpo, exceto pelos pés. Ele permanece em comunhão com Cristo e recebe a purificação contínua que vem através da palavra de Deus. Aquele que insiste em permanecer imundo após essa lavagem demonstra que nunca foi lavado e não tem parte em Cristo. Confessar a mesma identidade que pertencia ao velho homem é negar o evangelho e alinhar-se com o acusador em vez do Salvador.
A identidade de um cristão está ligada à justiça de Cristo. A própria justiça de Deus é imputada ao crente e repousa sobre ele. O valor do sangue de Cristo supera a soma de todo o pecado humano. Nenhuma mancha sobrevive à obra da cruz. A purificação vem através do ensino de Cristo, não através de doença, calamidade ou decadência do corpo. Essas aflições não têm poder purificador.
Uma mente dividida produz uma fé fraca. Muitos vivem em uma contradição. Eles afirmam que Cristo os purificou, enquanto mantêm a crença de que permanecem pecadores. Tal crença anula a certeza, esgota a força e deixa a consciência obscurecida. A entrada no céu pertence aos justos. Aqueles que não afirmam sua justiça em Cristo não podem afirmar seu lugar no céu. Questionar a suficiência da justiça de Cristo é questionar o próprio Cristo.
A declaração de Paulo a Timóteo tem sido mal utilizada para perpetuar a mentira de que um cristão ainda é o principal dos pecadores. A palavra grega protos carrega o sentido de principal ou mais proeminente, não necessariamente o pior em qualidade moral. No contexto, Paulo recorda sua vida anterior como blasfemador, perseguidor e oponente violento da fé. Sua fama como inimigo do evangelho tornou sua conversão o exemplo mais conspícuo de graça. Ele se tornou a exibição mais proeminente da misericórdia de Deus, uma prova viva de que Cristo salva até mesmo aqueles que outrora se opuseram a ele. Após sua conversão, Paulo manteve uma consciência limpa, defendeu sua conduta irrepreensível e exortou as igrejas a viverem na justiça que lhes foi dada. Ele nunca ensinou que permanecia o pior pecador vivo. Ele testemunhou que havia sido transformado em um novo homem.
Jesus disse que os discípulos já estavam limpos por causa da palavra que ele lhes havia falado. Sua palavra poda e purifica, produzindo fruto naqueles que permanecem nele. Essa limpeza acontece por meio de revelação e instrução, não pelos golpes da adversidade. A aflição sem a palavra de Deus não muda nada no coração.
A mentalidade de culpa e inferioridade pertence aos não convertidos. Carregar essa mentalidade para a vida cristã revela um estado não convertido. Aqueles que a abraçam adoram um deus falso, um que exige confissão interminável de impureza, mas nunca fornece purificação. Muitos pregadores promoveram essa postura como humildade, mas na verdade é incredulidade disfarçada em linguagem religiosa.
Charles Spurgeon certa vez repetiu as antigas linhas: “Sou um pobre pecador, e nada mais; Mas Jesus Cristo é o meu tudo em tudo.” Em outro lugar, ele orou: “Jesus, aceita um pecador… embora nesses vinte anos eu tenha conhecido o teu nome, ainda assim um pecador eu venho a ti.” Tais palavras podem soar devotas, mas negam a realidade do novo nascimento. Elas retratam o cristão como inalterado em identidade, ainda na mesma classe dos condenados, como se o sangue de Cristo não tivesse realizado o que o evangelho declara.
Paulo podia falar de si mesmo como pecador apenas quando se referia ao seu passado. O cristão pode testemunhar da mesma maneira. Um assassino que veio a Cristo pode declarar que era um assassino e que Cristo salva assassinos. Mas isso não é mais a sua identidade. Ele foi mudado. O cristão não pensa como um pecador. Ele não se sente como um pecador. E a vida cristã não se assemelha à vida de um pecador. O Espírito de Deus cria um tipo diferente de ser humano.
Quando o senso de ser um pecador domina o senso de ser justo em Cristo, a fé repousa mais no pecado do que na salvação. Essa fé não pode salvar. A fé que salva recebe a palavra de Cristo sobre o que ele realizou e sobre quem o crente é por causa dele. Um homem lavado por Cristo está limpo. Ele anda na consciência dessa purificação, e rejeita todo pensamento que trata o sangue de Cristo como inadequado. Esta é a fé que vence o mundo.
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