Nós Somos a Sua Glória

Nele fomos também escolhidos, tendo sido predestinados conforme o plano daquele que faz todas as coisas conforme o propósito da sua vontade, a fim de que nós, os que primeiro esperamos em Cristo, sejamos para o louvor da sua glória. (Efésios 1:11–12)

Em algum ponto do caminho, isso se tornou mais sobre o que fazemos por Deus do que sobre o que Deus faz por nós. Essa distorção corre profundamente pelas veias da religião. Ela molda a forma como as pessoas pensam sobre a fé, a adoração e a obediência, e colore a maneira como imaginam que a vida cristã deve ser vivida. Mas, ao colocar a ênfase no desempenho humano, o evangelho é invertido, a verdade é esvaziada de sua substância, e Deus é feito parecer o dependente. A mensagem da graça é transformada em uma mensagem de transação, e a majestade de Deus é reduzida à escala das conquistas humanas.

A suposição parece piedosa o suficiente. As pessoas falam de abençoar a Deus, servi-lo e oferecer-lhe o melhor de si, como se ele fosse o grande receptor e nós, os grandes benfeitores. Essa mentalidade aparece em orações que se concentram mais em nossa devoção do que em sua ação, em testemunhos que celebram nosso compromisso mais do que sua realização, e em sermões que nos exortam a medir nosso sucesso pelo quanto renunciamos por ele. A crença não declarada é que Deus ganha com nosso desempenho. Ele é elevado por nosso sacrifício, honrado por nosso zelo e, de alguma forma, enriquecido por nosso trabalho. Mas isso é uma ilusão. Trata Deus como se ele esperasse por nós agirmos para que possa ser completo. Faz dele o necessitado e de nós os provedores. Surge a pergunta: somos nós o Deus dele, ou é ele o nosso Deus?

Essa inversão não é um problema novo. Ela marcou a religião que Jesus confrontou em seu próprio tempo. Os fariseus construíram um sistema elaborado de regras, rituais e atos de devoção que colocavam o fardo na iniciativa humana. Deus era imaginado como alguém que dependia do zelo deles para manter sua honra. Cada regulamento tornava-se uma forma de provar sua seriedade, cada restrição uma forma de se gabar de seu sacrifício. Sua religião era uma exibição do que eles podiam fazer por Deus, não do que Deus havia prometido fazer por eles. Quando Jesus curou, perdoou e restaurou, ele expôs a fraude. Ele mostrou que Deus age com poder e compaixão, enquanto o homem é o receptor da misericórdia. Ele veio para derrubar a ilusão da justiça própria e substituí-la pela realidade da realização divina.

Pensar na fé cristã como nosso trabalho para Deus é continuar com a mesma inversão. Isso transforma Cristo em nosso projeto. Nós nos congratulamos por nosso serviço, nossa piedade, nosso ministério, como se Jesus existisse para ser a coroa de nossa devoção. Mas as Escrituras nos confrontam com o oposto. Paulo disse aos efésios que somos feitura de Deus. Somos sua realização, a evidência de seu desígnio e o fruto de sua vontade. O evangelho insiste que o crédito pertence a ele. Nossa identidade é definida pelo que ele fez, não pelo que oferecemos. Deus não é nossa realização. Nós somos sua realização.

Paulo desenvolveu ainda mais esse pensamento nesta carta aos Efésios. Ele disse que nós somos a herança de Deus, a posse que ele mesmo reivindica, e a exibição de sua glória. Isso define toda a perspectiva. Nossas vidas não são evidência de quanto podemos realizar para Deus, mas de quanto Deus realizou em nós. O crente não é um monumento ao seu próprio esforço, mas a herança garantida pelo sacrifício de Deus em Cristo. Quando Paulo disse que somos para o louvor da sua glória, ele não quis dizer que nossos esforços independentes adicionam honra a Deus. Ele quis dizer que nossa própria existência como pessoas redimidas prova a grandeza do plano de Deus e a certeza de sua vontade. Nós nos posicionamos como testemunhos vivos de que Deus escolheu e salvou, e de que seu propósito é triunfante e glorioso.

A religião centrada no homem mede a glória pelo que trazemos a Deus. O evangelho mede a glória pelo que Deus nos traz. Ele é quem nos sustenta. Nós não somos os que o sustentamos com nossa adoração. Ele nos abençoa com toda bênção espiritual em Cristo. Nós não somos os que o abençoamos com nosso sacrifício espiritual e serviço. Sua exaltação é exibida em sua própria realização, em vez de no que conseguimos realizar. Imaginar que a vida cristã se resume principalmente ao que fazemos por Deus e ao que renunciamos e sofremos por ele é contradizer todo o propósito da graça. Ele é Deus e nós somos o seu povo, ele é o doador e nós somos os receptores, ele é o ator e nós somos a evidência de sua ação.

A fé restaura esta ordem. Pela fé, entendemos que todas as coisas começam em Deus. Todas as coisas são sustentadas por ele e são completadas nele. A fé confessa que a salvação é obra dele, não nossa. Ela declara que a adoração é uma resposta, não um suprimento. Ela reconhece que toda boa obra que realizamos é preparada de antemão por Deus, de modo que até mesmo nossa obediência é uma demonstração de sua realização em vez de uma adição a ela. A fé não imagina que enriquecemos a Deus. A fé se alegra porque Deus nos enriqueceu.

Nós somos a sua glória, porque somos o resultado da sua realização. A sua glória não está no que tentamos fazer por ele, mas no que ele fez de nós. A igreja é a sua herança, a sua posse, a sua obra de arte e o seu mostruário para a grandeza da sua graça. Todo cristão se apresenta como prova de que Deus agiu com poder e misericórdia. Toda vida transformada em Cristo é evidência de que o propósito de Deus prevaleceu. Quando Paulo disse que somos para o louvor da sua glória, ele não nos atribui um projeto, mas declara a nossa identidade. Nós somos a sua glória porque ele se glorificou em nós.

O evangelho da fé e da graça nos liberta do fardo de sustentar Deus. Nunca fomos destinados a servir como seus benfeitores, nem poderíamos jamais ter sucesso na tentativa. O evangelho revela que Deus nos escolhe e nos valoriza como sua herança. Nossa tarefa não é torná-lo completo, mas confiar que ele nos completou em Cristo. Viver pela fé é aceitar nosso lugar como sua realização, regozijar-nos por sermos sua posse e gloriar-nos na verdade de que ele nos fez a proclamação de sua glória.

📖 Artigo original:

We Are His Glory ↗