O Alcance da Revelação

A Bíblia não confia seu vocabulário a guardiões humanos. Ela usa palavras de maneiras que servem à sua mensagem, mesmo que teólogos tentem restringir seu significado a um único canal. Poucas palavras mostram isso mais claramente do que “revelação”. Aqueles que se gabam de precisão frequentemente mutilaram o termo ao forçá-lo a um uso estreito, depois usando sua definição como uma vara contra os outros. A ironia é que eles proíbem até mesmo a Bíblia de falar livremente. Eles confinam a palavra a um significado de sua própria escolha, e ao fazer isso silenciam o próprio texto que fingem honrar.

A palavra grega *apokalypsis* e suas formas relacionadas aparecem em todo o Novo Testamento com uma variedade de usos. Ela se estende pela própria Escritura, iluminação espiritual, profecia na igreja, ações de Deus na história e o desvelamento final de Cristo. A mesma raiz os une, mostrando que a revelação é divulgação, o desvendamento do que estava oculto, seja em palavras ou em ações. Essa elasticidade destrói a falsa ortodoxia que reduziria a palavra a um único significado e baniria todos os outros.

Revelação às vezes se refere àquilo que se tornou Escritura. O livro do Apocalipse inicia com a frase: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos o que em breve há de acontecer” (Apocalipse 1:1). Isso não foi mera percepção, mas divulgação divina entregue à escrita. Paulo também insiste: “Não o recebi de pessoa alguma nem me foi ele ensinado; ao contrário, eu o recebi de Jesus Cristo por revelação” (Gálatas 1:12). Novamente ele diz: “isto é, o mistério que me foi dado a conhecer por revelação” (Efésios 3:3). Em cada caso, a palavra se refere a conteúdo diretamente transmitido, recebido como uma palavra de Deus e, em seguida, inscrito como Escritura. Esse é o sentido ao qual os teólogos se apegam, e ele é legítimo. Mas não é o único sentido.

A revelação também significa Deus concedendo entendimento ao seu povo. Paulo ora para que os crentes tenham “um espírito de sabedoria e de revelação, no pleno conhecimento dele” (Efésios 1:17). Ele usa exatamente a palavra que os teólogos reservam para as Escrituras, mas a aplica ao conhecimento contínuo da igreja sobre Deus. Jesus também disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e cultos, e as revelaste aos pequeninos” (Mateus 11:25; veja também Lucas 10:21). Paulo novamente afirma que “Deus no-las revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” (1 Coríntios 2:10). Esses trechos mostram que a revelação se estende à vida contínua da igreja, à medida que Deus revela a verdade àqueles que creem. Os carismáticos frequentemente falam de “revelação” dessa forma, onde outros podem preferir a palavra “iluminação”. Longe de estarem errados, eles estão mais próximos do uso bíblico do que aqueles que os condenam.

Portanto, que diremos, irmãos? Quando vocês se reúnem, cada um de vocês tem um salmo, ou uma palavra de instrução, uma revelação

A revelação também descreve as ações de Deus na história. Paulo escreve: “Pois no evangelho é revelada a justiça de Deus, que do princípio ao fim é pela fé” (Romanos 1:17), e “Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra toda impiedade e injustiça dos homens” (Romanos 1:18). Essas não são entradas em um texto, mas revelações do poder e do juízo divino no mundo. Ele também diz que o mistério “foi mantido em segredo durante longas eras, mas agora foi revelado e tornado conhecido a todas as nações pelas Escrituras proféticas, por ordem do Deus eterno” (Romanos 16:25–26). Novamente, a palavra carrega o sentido de Deus desvendando o que estava oculto, não limitado à inscrição das Escrituras.

Apocalipse finalmente descreve a revelação escatológica de Cristo. Paulo diz aos tessalonicenses que eles obterão alívio “quando o Senhor Jesus for revelado do céu em meio a chamas de fogo, com os seus anjos poderosos” (2 Tessalonicenses 1:7). Pedro fala de “a salvação prestes a ser revelada no último tempo” (1 Pedro 1:5), de uma fé que resultará em louvor “quando Jesus Cristo for revelado” (1 Pedro 1:7), de uma graça que será trazida aos crentes “quando Jesus Cristo for revelado” (1 Pedro 1:13), e da igreja se alegrando quando a glória de Cristo “for revelada” (1 Pedro 4:13). Em todos esses casos, a revelação não é a escrita de um livro, mas a divulgação da glória de Cristo no fim dos tempos.

Da entrega das Escrituras à iluminação da mente, da profecia no culto à exibição da justiça de Deus, do desvelamento presente do evangelho à revelação final de Cristo, a Bíblia usa a mesma família de palavras. Ela se recusa a achatar o significado em um sentido estreito. Teólogos que restringem “revelação” apenas às Escrituras criam uma definição artificial que contradiz o texto. Eles pensam que “nova revelação” deve significar acréscimos à Bíblia, o que é falso. “Nova revelação” no sentido de Deus continuar a falar ao seu povo é bíblico. A palavra tem amplitude, e achatá-la é distorcê-la.

Isso expõe o erro teológico. Muitos que se imaginam sofisticados cometem o equívoco de congelar uma palavra em um único significado, depois impondo sua definição às Escrituras. Eles proíbem a Bíblia de falar em sua própria linguagem. Eles cometem o mesmo crime de que acusam os outros: distorcer palavras e corromper o significado. Quando a revelação é restrita apenas às Escrituras, em desafio ao próprio uso da Bíblia, o resultado é antibíblico e anti-evangelho. Isso reduz a atividade presente de Deus ao silêncio e transforma a revelação em uma relíquia do passado.

O debate entre iluminação e revelação mostra a mesma inversão. Os carismáticos frequentemente usam “revelação” para significar o que outros chamam de iluminação. Os acadêmicos os atacam por confusão. Mas, na verdade, os carismáticos estão mais próximos da oração de Paulo em Efésios 1:17 do que os acadêmicos que os repreendem. Os supostos especialistas insistem em uma precisão falsa enquanto se tornam cegos para o texto. Seu aprendizado os tornou tolos. Às vezes, você pode acomodar o uso deles para evitar distração, mas nunca deve entregar a palavra bíblica a eles. Sua ignorância não lhes dá o direito de redefinir a Escritura.

A palavra pertence a Deus. Ele a usou na Escritura com uma amplitude deliberada, abrangendo sua palavra escrita, sua revelação à igreja, suas obras na história e sua revelação final na glória. A tentativa de restringi-la é rebelião contra o vocabulário de Deus. É outra forma da mesma arrogância que se orgulha da sabedoria, mas se cega para a verdade. Deixe que a Bíblia defina suas próprias palavras. Deixe que a revelação de Deus continue a ser reconhecida em todos os modos que ele ordenou, até que a última e maior revelação apareça quando Cristo vier do céu.

📖 Artigo original:

The Range of Revelation ↗