Apologética: Quando Ambos os Lados Reconhecem Pressuposições

Uma das perguntas mais frequentes levantadas contra a apologética pressuposicional é bastante tola: E se nossos oponentes fizerem a mesma coisa? Se o cristão declara a Bíblia como sua base, e o incrédulo declara sua própria filosofia como sua base, então ambos os lados parecem estar operando no mesmo nível. Cada um começa com pressupostos. Cada um alega se apoiar em um princípio primordial. Se for assim, isso não reduz todo o debate a um impasse? Cada homem não simplesmente finca o pé, afirma seu axioma e se recusa a ser movido? A pergunta sugere que a apologética pressuposicional degenera em mera afirmação no momento em que a outra parte declara seu próprio ponto de partida.

Essa objeção, embora comum, baseia-se em um mal-entendido do que a apologética pressuposicional realmente ensina. Não estamos afirmando que os cristãos assumem arbitrariamente sua resposta e, portanto, não podem ser desafiados se os incrédulos fizerem o mesmo. A reivindicação real é esta: todo raciocínio depende de suposições. Todo ser humano interpreta o mundo a partir de princípios primeiros. Nenhuma filosofia procede de uma neutralidade pura, e nenhuma observação está livre de interpretação. Como as suposições são inevitáveis, a tarefa crucial do debate é rastrear as crenças de volta às suas fundações e perguntar se essas fundações são sólidas. A questão nunca é se as suposições existem. A questão é se as suposições podem sustentar a verdade.

É por isso que a objeção erra o alvo. Se o incrédulo anuncia suas suposições, ele não neutralizou a posição cristã, mas esclareceu o campo de batalha. Sua declaração não produz um impasse, mas acelera a discussão. Não perdemos mais tempo em disputas secundárias. Agora vamos diretamente às raízes. Uma vez que ambos os lados colocaram suas suposições na mesa, a questão é se essas suposições são verdadeiras ou falsas, se elas podem sustentar o conhecimento ou se são demonstradas falsas quando examinadas. O trabalho da apologética não é esconder suposições, mas expô-las e raciocinar sobre elas abertamente.

A neutralidade é impossível. Nenhum fato se interpreta a si mesmo, e nenhuma observação chega sem categorias já fornecidas pela mente. A sensação fornece impressões, mas impressões sozinhas não são conhecimento. Elas não contêm nenhuma necessidade e não produzem universais. Conceitos como identidade, causalidade, ordem e tempo não são abstraídos da sensação, mas a precedem. Toda interpretação é guiada por essas categorias, e essas categorias são determinadas pelas suposições de uma cosmovisão. É por isso que duas pessoas podem ver o mesmo evento e ainda assim entendê-lo de maneiras completamente diferentes. Elas não estão raciocinando a partir de um ponto de vista neutro compartilhado, mas estão aplicando diferentes princípios de pensamento. A divergência é necessária, pois os princípios em si moldam a interpretação.

Uma vez que a discussão se volta para os princípios fundamentais, o contraste é nítido. A maioria dos sistemas não resiste ao exame. O empirismo busca construir todo o conhecimento a partir da sensação, mas a sensação produz apenas particulares momentâneos que não podem se interpretar a si mesmos. Ele nunca fornece universais ou necessidade. A indução, a tentativa de inferir uniformidade a partir de impressões repetidas, assume o que tenta provar e, portanto, não pode se justificar. O racionalismo divorciado da revelação inventa princípios sem autoridade e deduz sistemas que se refutam por meio de contradição. O naturalismo assume a realidade da lógica e da ordem, mas dentro de seu quadro materialista não pode explicá-las. Em cada caso, o sistema pressupõe verdades que não pode sustentar. Quando pressionado, ele se desintegra em ceticismo.

Toda filosofia deve começar com uma fundação. A questão é se essa fundação é adequada para sustentar a superestrutura. Um sistema sólido requer um axioma autoautenticador, um que carregue em si mesmo tanto autoridade quanto suficiência, e do qual uma cosmovisão coerente possa ser deduzida. Somente a Bíblia atende a esse critério. Ela é revelação divina, a palavra do Deus da verdade. Ela fornece as proposições a partir das quais a teologia, a filosofia e a ética podem ser raciocinadas em unidade sistemática. Ela possui autoridade abrangente, falando não apenas sobre assuntos isolados, mas sobre a totalidade da realidade. Ela exclui rivais, apresentando-se como a palavra única de Deus e não tolerando igual. Porque é revelação, possui a autoridade daquele que não pode mentir. Porque é abrangente, fornece o escopo necessário para uma cosmovisão. Porque é exclusiva, permanece sozinha como o fundamento do conhecimento.

Isso é uma questão de necessidade, não de preferência arbitrária. Se a revelação for negada, o conhecimento se desintegra. A lógica, a verdade e a inteligibilidade não podem ser garantidas. Todo outro princípio se mostra autodestrutivo. Mas, se a revelação cristã for afirmada, o conhecimento tem um fundamento que não pode ser abalado. Assim como Deus jura por si mesmo porque não há ninguém maior, da mesma forma sua palavra testifica de si mesma como o ponto de partida necessário. A revelação se destaca sozinha como a condição necessária para o pensamento. Sem ela, o raciocínio se mostra impossível.

Isso tem consequências diretas em encontros apologéticos. Quando um descrente anuncia suas suposições, o cristão não é colocado em desvantagem. O descrente apenas concordou com o cristão quanto ao lugar onde o debate real deve ocorrer. Sua base pode ser testada, e ela falhará. O cristão, da mesma forma, declara sua base abertamente. Ambas as partes apresentam seus pontos de partida, e então a questão se torna: qual desses princípios é verdadeiro? Qual pode sustentar um sistema racional? Qual termina em contradição? Não há impasse algum. É o início de uma discussão genuína no nível onde o conflito realmente reside.

Preocupações pressuposicionais são relevantes para os ensinamentos dentro da igreja também. Os cristãos frequentemente vivem e pensam como se compartilhassem as suposições dos incrédulos, diferindo apenas no nível da doutrina ou da prática. Eles raciocinam em categorias seculares, adotam princípios alheios e tentam colocar crenças cristãs no topo como conclusões. Mas, se as premissas forem falsas, as conclusões não podem se sustentar. Essa inconsistência leva apenas à confusão e ao compromisso. A apologética, portanto, serve não apenas para expor a tolice dos sistemas não cristãos, mas também para corrigir a igreja. Ela ensina os cristãos a reconhecer premissas ocultas, a abandonar fundamentos que não pertencem a Cristo e a começar seu raciocínio com a palavra de Deus. Ela treina os crentes a pensar como cristãos em todas as esferas, a renovar suas mentes e a construir um sistema coerente sobre o axioma da revelação.

Não prevalecemos na apologética porque por acaso temos suposições, como se a mera posse de um ponto de partida fosse suficiente. Toda cosmovisão tem um ponto de partida. Todos têm suposições. Prevalecemos porque nossas suposições são verdadeiras. Elas se baseiam na palavra de Deus, o único fundamento forte o suficiente para sustentar o conhecimento. A Escritura proporciona certeza, coerência e estabilidade. Todo outro fundamento falha. Começar com a palavra de Deus é começar com a verdade em si. Começar em outro lugar é renunciar à possibilidade do conhecimento.

Quando alguém pergunta: “E se nossos oponentes fizerem a mesma coisa?”, a resposta é que eles devem, pois todo pensamento se baseia em pressuposições. Parte da apologética pressuposicional é levar nossos oponentes a perceberem isso em primeiro lugar. Mas, uma vez que essas pressuposições são declaradas e testadas, a diferença surge. Fundamentos falsos se destroem a si mesmos. Somente a revelação de Deus perdura. Somente sobre esse fundamento o pensamento é possível, somente sobre esse fundamento a verdade é inteligível, somente sobre esse fundamento o conhecimento pode existir. O cristão não vence por arbitrariedade, mas por necessidade, pois a palavra de Deus é o princípio indispensável de todo entendimento.

📖 Artigo original:

Apologetics: When Both Sides Admit Assumptions ↗