Tu Me Terias Dado os Teus Olhos

Irmãos, suplico-lhes que se tornem como eu, pois eu me tornei como vocês. Em nada vocês me ofenderam. Como sabem, foi por causa de uma doença que lhes preguei o evangelho pela primeira vez. Embora a minha doença lhes tenha sido uma provação, vocês não me trataram com desprezo ou desdém. Ao contrário, receberam-me como se eu fosse um anjo de Deus, como se fosse o próprio Cristo Jesus. Que aconteceu com a alegria de vocês? Tenho certeza de que, se fosse possível, vocês teriam arrancado os próprios olhos para dá-los a mim. Será que me tornei inimigo de vocês por dizer a verdade? Os que fazem tanto esforço para agradá-los não agem bem, mas querem isolá-los a fim de que vocês também mostrem zelo por eles. (Gálatas 4:12-17)

As palavras de Paulo em Gálatas 4:15 foram distorcidas e mutiladas por gerações de comentadores até mal se parecerem com a verdade. O que ele quis dizer não foi que sofria de alguma doença ocular crônica ou que carregava malária pela Ásia Menor como uma lição objetiva da recusa de Deus em curar. A declaração é um idioma, uma expressão vívida de lealdade, o tipo de fala que significa “Eu daria minha vida por você”. Os gálatas amavam tanto Paulo que teriam arrancado os próprios olhos por ele. Esse é o ponto, e forçar um diagnóstico a partir disso é perder toda a verdade.

O próprio Paulo explica por que pregou a eles em primeiro lugar: “Foi por causa de uma enfermidade da carne que eu lhes anunciei o evangelho pela primeira vez.” Estudiosos se alinharam para atribuir doenças como malária, epilepsia, oftalmia, mas nenhuma dessas teorias se baseia nas Escrituras. O único evento real que corresponde ao tempo, lugar e descrição já está registrado: a lapidação de Paulo em Listra, em Atos 14. Ele foi arrastado para fora da cidade e deixado como morto, um cadáver amassado aos olhos de seus inimigos. A lapidação não era uma questão de arranhões e hematomas. Pedras eram arremessadas com a intenção de esmagar crânios e afundar rostos. Estevão foi morto dessa forma. Paulo foi submetido à mesma execução até que a multidão se convencesse de que a vida o havia deixado. Mas o versículo seguinte registra o fato surpreendente: ele se levantou e voltou para a cidade. Essa é a enfermidade de que ele fala. Ele permaneceu na Galácia enquanto se recuperava de um corpo que havia sido despedaçado, um rosto que deve ter parecido horrendo, uma condição que poderia ter sido uma provação intolerável para aqueles que o viam. Mas os gálatas não o desprezaram. Eles o receberam como se ele fosse o próprio Cristo Jesus. Sua compaixão foi despertada não por um homem com sintomas leves de febre, mas por um pregador mutilado, marcado e inchado, que, por todos os direitos, deveria ter sido um cadáver.

O texto proclama cura, não doença. Paulo era um testemunho vivo de sobrevivência. Ele havia sido dado por morto e ainda estava de pé. Sua “enfermidade” era o rescaldo de uma execução, não uma doença crônica. Sua própria presença diante deles era um milagre, não um estudo de caso médico. Essa leitura é a única ancorada nas Escrituras. Ela se alinha com o catálogo de sofrimentos dele em 2 Coríntios 11, como flagelações, varas, naufrágios, perigos, perseguições. Ela se harmoniza com 2 Coríntios 12, onde ele se gloria da “fraqueza”. Aquele espinho na carne, como todos os espinhos bíblicos, refere-se não a condições do corpo, mas a pessoas hostis, um mensageiro de Satanás enviado para atormentá-lo. Sua fraqueza era humilhação e espancamento, não doença. A resposta do Senhor, “O meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”, foi cumprida em sua própria sobrevivência, saindo de execuções, recuperando-se de chicotadas que deveriam tê-lo matado, sobrevivendo a tormentos que teriam destruído outros.

Insistir que Gálatas 4 descreve uma doença nos olhos é intelectualmente incompetente e desonesto. É o trabalho de eruditos farisaicos que examinam a Bíblia como detetives desajeitados, inventando doenças para que possam acalmar sua incredulidade. Eles são mais diligentes em suprimir a cura do que em proclamá-la. Eles podem farejar a mais tênue variante de manuscrito, mas não conseguem conectar dois trechos claros entre Atos 14 e Gálatas 4. Eles perseguem a doença como porcos atrás de lavagem, porque o testemunho da cura os repreende. Eles investigam avivamentos em vez de realizá-los. Em vez de curar os doentes, eles interrogam os que são curados. Eles armam ciladas para aqueles que oram pelos doentes, assim como os fariseus fizeram quando cercaram Jesus com perguntas destinadas a enredá-lo. Eles não têm poder, por isso zombam daqueles que têm. Mas, se você não prega a cura, você não prega Cristo. Se você prega a doença, você é um mentiroso e um impostor. A maioria dos pregadores são mentirosos e impostores.

Os gálatas não podiam dar a Paulo os seus olhos. Sua devoção era real, mas impotente. Mas há Alguém que deu mais. Cristo deu a sua vida. E pelas suas feridas fomos curados. Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças. O corpo quebrantado de Paulo, marcado e deformado por pedras, era uma parábola viva do corpo quebrantado de Cristo. Desprezá-lo era desprezar a Cristo. Acolhê-lo era acolher a Cristo. Rejeitar o testemunho de cura em sua carne é pisotear o sangue de Jesus, que morreu não apenas para perdoar pecados, mas para curar enfermidades. Eruditos que usam Gálatas 4 como texto de prova para a recusa divina cospem na cruz. Eles proíbem que outros recebam o que Cristo comprou com as suas feridas. Eles se orgulham de sua erudição enquanto roubam da igreja a fé.

Paulo pergunta: “Onde está, pois, a satisfação de vocês?” Os gálatas outrora o receberam como um anjo de Deus, agora o tratavam como um inimigo. Por quê? Porque ele lhes disse a verdade. Falsos mestres se infiltraram com zelo, mas era um zelo para isolá-los de Paulo, a fim de que fossem zelosos pelos enganadores. O falso zelo não mudou. Os mestres da incredulidade hoje são zelosos por seguidores, não por Cristo. Eles não curam, debatem. Não expulsam demônios, investigam notas de rodapé. Não andam no poder do Espírito, zombam daqueles que andam. E seus discípulos se tornam exatamente como eles: impotentes, sem alegria, sem fé.

Mas Paulo nos lembra como os gálatas primeiro receberam milagres: não pela lei, não pelas obras, não pela especulação intelectual, mas por crerem na mensagem. “Aquele que lhes concede o seu Espírito e opera milagres entre vocês realiza essas coisas pela prática da Lei ou pela fé com que ouviram?” Eles creram, e os milagres fluíram. Esse é o padrão apostólico, a verdadeira marca da fé. O mesmo Espírito ainda opera da mesma maneira. Ele não unge doutrinas de doença. Ele não abençoa a incredulidade. Ele responde à fé em Cristo, que levou as enfermidades, carregou as doenças e cura hoje.

A passagem não é uma arma para a incredulidade, mas uma testemunha para a cura. Paulo não era um apóstolo doentio arrastando sua doença de cidade em cidade. Ele era um apóstolo maltratado, repetidamente executado, repetidamente ressuscitado pelo poder de Deus, repetidamente fortalecido na fraqueza. Ele voltava a entrar em cidades onde multidões o haviam deixado por morto. Ele pregava enquanto estava horrendo e marcado por cicatrizes. Ele vivia como um sinal do poder de ressurreição. Seu testemunho não é que Deus se recusou a curá-lo, mas que Deus o curou repetidamente daquilo que deveria tê-lo matado. Reduzir isso à malária é um insulto. Inventar oftalmia é uma fraude. Pregar doença a partir deste texto é traição.

“Vocês me teriam dado os seus olhos.” Eles o amavam em sua fragilidade porque viam Cristo nele. Não podemos dar a Paulo os nossos olhos, mas podemos dar a Cristo a nossa fé. E, em troca, recebemos o que ele comprou: cura, libertação e vida. Esta é a verdadeira leitura de Gálatas 4. Esta é o testemunho de Atos 14. E este é o evangelho: não a doença suportada, mas a cura recebida; não a fraqueza como derrota, mas o poder aperfeiçoado na fraqueza. Cristo nos deu mais do que os seus olhos; ele nos deu a sua vida. Nossa parte é crer, dar graças e receber.

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You Would Have Given Me Your Eyes ↗