Cessacionismo e Ordenação

Enquanto cultuavam o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: “Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado.” (Atos 13:2)

A ordenação no sentido cristão deriva seu significado do Espírito de Deus. Ela não é uma invenção humana, nem uma questão de autoridade cerimonial que os homens possam exercer a seu próprio critério. Os relatos bíblicos demonstram que, quando alguém é ordenado para o ministério, é o próprio Espírito quem chama, separa e capacita. Qualquer tentativa de estabelecer a ordenação à parte do Espírito reduz a prática a uma paródia, um ritual que imita a forma, mas não contém substância. Esse problema atinge sua expressão mais aguda no caso do cessacionismo, porque o cessacionismo nega a atividade contínua dos dons do Espírito. Se a teologia deles for verdadeira, então a própria possibilidade de uma ordenação real desaparece.

O exemplo de Atos 13 é decisivo. Enquanto a igreja em Antioquia cultuava o Senhor e jejuava, disse o Espírito Santo: “Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado”. A igreja não inventou um papel para esses homens. O próprio Espírito os chamou, e a ordenação consistiu em reconhecer, afirmar e ratificar o que Deus já havia decretado. O Espírito permaneceu o fator decisivo, não o ato humano. Sem o Espírito, não haveria nomeação a ser reconhecida e, portanto, nenhuma ordenação a ser conferida. Todo o significado da ordenação reside na decisão e no empoderamento do Espírito.

As cartas de Paulo a Timóteo fornecem confirmação adicional. Timóteo não recebeu meramente um título ou reconhecimento público quando foi ordenado. Paulo lembrou-lhe que mantivesse viva a chama do dom de Deus que está nele mediante a imposição de mãos. Dons espirituais foram conferidos na ordenação. O Espírito impartiu poder real por meio do ato, vinculando Timóteo ao seu chamado por operação divina. Se o cessacionismo estiver correto, então tais dons não existem mais para serem impartidos. Nesse caso, a ordenação torna-se uma cerimônia sem efeito. É um corpo sem fôlego, uma casca sem vida.

Disto se segue que a ordenação cessacionista não é ordenação alguma. No melhor dos casos, é uma nomeação simbólica para um cargo, um reconhecimento público de um papel que carece de sanção divina. O problema não é meramente que os cessacionistas falham em replicar a prática bíblica em todos os detalhes. O problema é que sua teologia torna a prática bíblica impossível em princípio. Se o Espírito não mais chama homens por meio de dons e poder, então ninguém pode alegar ser ordenado no sentido bíblico. E como a ordenação deve vir daqueles que foram eles mesmos ordenados pelo Espírito, os cessacionistas não podem ordenar ninguém precisamente porque eles próprios nunca foram ordenados. Sua linha de sucessão é fictícia, suas credenciais fraudulentas, e seus ministérios a imitação de uma realidade que eles rejeitam.

Uma igreja cessacionista pode conferir títulos, realizar cerimônias e transmitir tradições, mas o que ela produz são ministros que são meio assados e meio falsos. Eles são assados porque ainda podem conhecer algo das Escrituras, pregar doutrinas e carregar autoridade institucional. Eles são falsos porque a ordenação em si não tem correspondência com o que Deus instituiu na palavra de Deus. Como aqueles que conferem a ordenação nunca foram ordenados em primeiro lugar, eles só podem reproduzir a mesma vacuidade naqueles que os seguem.

Quando a ordenação é reduzida a uma cerimônia, ela se torna indistinguível de qualquer outro reconhecimento social. Ela funciona de modo muito semelhante a diplomas acadêmicos ou licenças profissionais. O candidato pode ser declarado apto para o cargo, receber um certificado e ser instalado na posição, mas nada espiritual ocorre. O Espírito não chamou, dotou ou equipou. A imposição de mãos se torna o mero movimento da carne. As palavras proferidas são as tradições dos homens em vez dos decretos de Deus. Todo o ato pode impressionar os observadores, mas não muda nada na ordem do céu.

Esse tipo de ordenação continua atraente para as pessoas porque lhes concede reconhecimento, honra e avanço na carreira. Ela se assemelha à nomeação de funcionários em qualquer outra organização. Para muitos, isso é suficiente. Eles desejam a aparência de autoridade sem a substância. Eles querem ser chamados de ministros sem serem equipados pelo Espírito. Eles querem representar Deus enquanto negam os próprios dons que tornam a representação possível. O resultado é uma classe institucional de líderes que se assemelham ao padrão bíblico na estrutura externa, mas negam sua essência interna.

Dizer que tal ordenação é vazia não significa dizer que ninguém ordenado sob mãos cessacionistas pode servir a Deus. Um homem ainda pode se levantar em fé, estudar a palavra de Deus e crer em suas promessas. Deus pode honrar sua fé e conceder-lhe poder diretamente. Mas, nesse caso, o benefício vem da fé, não da cerimônia. A ordenação não contribui em nada. Pode até enganar o homem, fazendo-o pensar que sua força reside em seu título e na cerimônia, em vez de no Espírito de Deus. A ordenação, portanto, é, na melhor das hipóteses, inútil e, na pior, um tropeço.

A realidade é que Deus lida com o seu povo pela fé e pelo seu Espírito. Onde a fé se apodera da sua palavra, o Espírito age com poder. Essa é a essência do ministério. Nenhum ritual a substitui. O cessacionismo remove o Espírito da ordenação, e assim elimina a ordenação por completo. Ele deixa para trás apenas uma forma vazia, um gesto ritual que engana tanto aquele que o realiza quanto aquele que o recebe. A pessoa ordenada pode ir adiante para pregar, mas se ela realizar algo pela fé, será apesar da ordenação, e não por causa dela.

A seriedade disso não pode ser exagerada. A ordenação destina-se a ancorar os ministros no chamado divino, a conectá-los aos dons do Espírito e a capacitá-los para o seu trabalho. Privar a ordenação desse poder é mutilar a instituição além do reconhecimento. Uma cerimônia cessacionista poderia muito bem ser uma formatura, uma festa ou uma posse. Ela não significa nada que o céu reconheça. Não pode ser invocada como uma confirmação do chamado de Deus. Ela não confere dons. Ela não invoca o poder do Espírito. Ela deixa o ministro na mesma condição de antes.

Essa vacuidade reflete o vazio mais amplo do cessacionismo. Uma teologia que nega a atividade do Espírito já se separou da presença viva de Deus em sua igreja. Ela deve então substituir a realidade divina por cerimônia, ritual e invenção humana. A ordenação torna-se um exemplo revelador disso. O que outrora era o momento de comissionamento divino torna-se um palco para gestos vazios. Os participantes se congratulam por realizar uma tradição venerável, mas Deus não falou e Deus não agiu. O abismo entre a aparência da ordenação e a realidade da ordenação se alarga até que não reste nada para comparar.

A ordenação real não pode existir onde o Espírito é negado. A Escritura mostra que a ordenação repousa no chamado e no empoderamento do Espírito. Os próprios cessacionistas nunca foram ordenados, e assim eles não podem ordenar outros. Suas cerimônias são inválidas desde a raiz para cima, uma cadeia de impostura que produz nada além de titulares de cargos vazios. A verdadeira ordenação permanece inseparável da atividade contínua do Espírito, e apenas aqueles que dependem inteiramente dele e da fé na palavra de Deus se apresentam como ministros no sentido bíblico.

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Cessationism and Ordination ↗