A Deleitosa Crueldade do Abandono

“Além do mais, visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para fazerem coisas que não convêm.” (Romanos 1:28)

Paulo descreveu um princípio de julgamento divino que tem sido verdadeiro desde o início e permanece verdadeiro hoje. Quando os homens recusaram o caminho de Deus, Ele não apenas tolerou sua rebelião. Ele agiu em julgamento, entregando-os ao próprio caminho que eles haviam escolhido. Esse abandono foi judicial e deliberado. O pecador rejeitou a verdade, e Deus confirmou a rejeição entregando-o a uma mente depravada. O efeito foi que as próprias escolhas e convicções do homem se tornaram instrumentos de destruição. Seus pecados produziram sua própria punição, e sua incredulidade gerou sua própria ruína. O princípio era o de semear e colher: o que uma pessoa semeava, isso também colhia. Deus governava esse processo, tornando a consequência inseparável da causa.

Paulo aplicou isso em Romanos ao assunto da imoralidade. Ele escreveu que os homens trocaram a verdade de Deus por uma mentira, e que Deus, portanto, os entregou à impureza. O julgamento se adequava ao crime. A corrupção do pensamento produziu uma corrupção de conduta, e essa corrupção se tornou sua própria penalidade. A corrupção moral sempre carregava consequências dentro de si mesma. O corpo profanado carregava suas próprias cicatrizes. Desejos doentios traziam seu próprio tormento. Relações desordenadas semeavam o caos em famílias e sociedades. O julgamento de Deus não precisava esperar pelo fim dos tempos. Ele atuava no passado e ainda atua no presente como o princípio de causa e efeito, mostrando que o pecado contém sua própria destruição. Ser entregue à imoralidade era ser condenado à miséria.

Esse princípio se estende a toda recusa da fé. O homem que rejeita Deus em qualquer esfera da vida se vê abandonado às suas próprias falsidades. Quando ele se recusa a crer na cura, a doença se torna a sua porção. Quando ele nega o poder de Deus no evangelismo, o seu ministério se reduz a um programa estéril, mais performance do que realidade. Ele insiste que os milagres pertencem apenas ao passado, e Deus o confirma em sua incredulidade, fazendo-o colher a safra de igrejas fracas e pregações infrutíferas. Suas congregações se enchem de hipócritas. Quando ele recorre à política em vez do poder de Deus, recebe o seu julgamento na forma de frustração interminável, porque os seus métodos não podem realizar o que só Deus pode accomplir. Ele reúne seguidores que se impressionam com a organização, mas os seus corações permanecem não convertidos. Eles se apegam à ideologia em vez da fé, e a igreja em si se torna pouco mais do que um clube político. O que passa por intelectualismo em tal abordagem revela-se superficial e falso. Isso produz corações duros e cegos. O julgamento de Deus opera entregando-os aos próprios esquemas que escolheram.

A ironia desse abandono divino é aguda. A própria coisa que os Infieis reivindicam como sua força torna-se a marca de sua ruína. Um homem que confia na medicina em vez das promessas de Deus colhe uma vida de medo e doença. Um homem que confia na política herda a contenda e a futilidade que a política sempre produz. Um homem que se curva ao intelecto humano e à reputação ganha um intelecto que o leva ainda mais longe da verdade. Deus os pune dando-lhes exatamente o que eles querem. Essa é a deliciosa crueldade de seu julgamento. Ele permite que eles tenham seus ídolos, e os ídolos os destroem. A medida que eles usam torna-se a medida que recebem.

O inverso é verdadeiro para aqueles que creem. O evangelho é descrito como o poder de Deus para aqueles que creem, enquanto para aqueles que perecem ele parece fraqueza. A diferença não está no evangelho em si, mas na resposta. A mesma palavra que salva alguns condena outros. Para os incrédulos, ele parece loucura, incapaz de lidar com sua suposta sofisticação. Para aqueles que confiam em Deus, ele se apresenta como a solução para todas as coisas, suficiente para esta vida e para a eternidade. O princípio funciona em ambas as direções. Aqueles que rejeitam o poder de Deus são confirmados na derrota. Aqueles que recebem o poder de Deus são confirmados na vitória. Deus não permite neutralidade. Ele endurece os infiéis na futilidade, e fortalece os fiéis na esperança.

Deus entrega os infiéis não apenas à imoralidade, mas ao próprio pensamento degradado. Seus sistemas de doutrina refletem sua rebelião. Eles produzem seminários e igrejas cheios de elaboradas racionalizações para a incredulidade. Eles negam os milagres, e sua teologia decai em um intelectualismo estéril e incoerente. Eles desprezam a cura, e sua doutrina murcha em consolo vazio. Eles desprezam o Espírito, e seus púlpitos trovejam com moralismo e política. Esses eventos são juízos de Deus, e não acidentes da história. Ele os entrega a uma teologia infiel, e os resultados testemunham o castigo. Suas obras fracassam. Suas igrejas encolhem. Seus discípulos permanecem mundanos. Eles literalmente, fisicamente, morrem de doenças degradantes. Sua teologia não produz poder porque suas mentes foram entregues.

A mesma palavra que explica a ruína deles explica a bênção daqueles que confiam em Deus. Ele não deixa os crentes colherem a destruição. Ele confirma a fé deles fazendo-a florescer. Aquele que crê na palavra de Deus para a cura recebe a cura. Aquele que confia no Espírito para o poder no evangelismo vê o Espírito em ação. Aquele que rejeita a política como meio de mudança experimenta milagres que nenhum governo pode produzir. Deus os entrega ao caminho da fé, e o caminho da fé produz o seu próprio fruto. Ele produz saúde. Ele produz libertação. Ele produz sabedoria e alegria. Ele produz abundância. Ele enche as igrejas de felicidade e a pregação de convicção. Ele cria discípulos que conhecem a Deus em vez daqueles que apenas conhecem argumentos, e argumentos falsos, aliás.

O contraste não poderia ser maior. Deus entrega o incrédulo a uma mente doentia e derrotada. Ele entrega o crente a uma mente renovada pela verdade e capacitada pelo seu Espírito. O incrédulo colhe frustração. O crente colhe realização. O incrédulo herda hipocrisia e futilidade. O crente herda justiça, paz e alegria. O incrédulo encontra sua própria teologia confirmada como falsa. O crente encontra sua fé confirmada como verdadeira. Em todos os casos, Deus governa o processo, entregando os homens ao que eles escolheram. Ele faz da incredulidade o seu próprio castigo, e faz da fé a sua própria recompensa.

A frase de Paulo, “Deus os entregou”, carregava um significado enorme. Era uma declaração judicial de que o próprio Deus agiu para confirmar os homens em seus caminhos, em vez de uma descrição passiva do declínio humano. O pecador caminhava para a ruína porque Deus ativamente o entregava a ela. Isso era o julgamento de Deus na história, e continua a operar através das escolhas dos homens. O pecador semeia incredulidade e colhe corrupção. O crente semeia fé e colhe vida. A lei da semeadura e da colheita revela a mão de Deus por trás de todo resultado.

Esse princípio exclui o compromisso. Aqueles que confiam na medicina e na política acima das promessas de Deus se encontram abandonados à própria fraqueza que preferem. Aqueles que depositam sua esperança em filosofia falaciosa em vez de na revelação divina descobrem seu intelecto escravizado pela falsidade. A lei de Deus opera sem exceção. O evangelho, que é o poder de Deus para aqueles que creem, torna-se o instrumento de julgamento para aqueles que recusam. Dessa forma, Deus demonstra sua justiça e sua verdade. Ele confirma o incrédulo na futilidade e o crente na força. Ele os entrega, e eles herdam o que escolheram.

📖 Artigo original:

The Delightful Cruelty of Abandonment ↗