A Cura e a Natureza de Deus
Bendiga o Senhor a minha alma! Não esqueça nenhuma de suas bênçãos! Ele que perdoa todos os seus pecados e cura todas as suas doenças. (Salmos 103:2–3)
As Escrituras colocam a cura e todas as bênçãos dentro do quadro da natureza de Deus, e se recusam a confiná-las às categorias estreitas inventadas por teólogos que se esforçam para controlar a verdade. Falar de benefícios é falar do que o próprio Deus está inclinado a conceder, e do que pertence ao seu caráter e essência. A cura é uma questão da natureza de Deus, e não de dons espirituais ou dotações extraordinárias. Seus benefícios fluem de sua natureza e nunca dependem de um arranjo secundário de dons, ofícios ou cerimônias, mas fluem de sua natureza tão livremente quanto a luz do sol.
Para ilustrar esse ponto, considere a própria salvação. Ninguém insiste que um homem deve ouvir o evangelho apenas de alguém que carrega um dom de evangelismo. O evangelho carrega poder por seu próprio conteúdo divino, porque revela a natureza e a obra de Deus em Cristo. Da mesma forma, a cura não espera pela presença de algum especialista carismático, nem depende da operação de sinais reveladores para provar as Escrituras. Ela pertence à mesma realidade redentora que o perdão dos pecados. O Senhor é o curador, tanto quanto é o salvador, juiz ou provedor. Ele age a partir de quem Ele é. Deus não opera a justiça apenas quando há uma nova revelação que Ele deve autenticar. A justiça é quem Ele é. E Deus não provê apenas quando isso está ligado a alguma promessa ou aliança especial. Ele se revelou como o Senhor que provê e que dá o poder para obter riqueza. A prosperidade é quem Ele é. Ele não é forçado a se tornar algo que não é por meio de uma aliança. Essas são expressões do Seu próprio ser. Ele é Aquele que é, antes de todas as alianças e promessas, e o que Ele é não pode ser cancelado por tradição humana ou engano teológico.
Um pacto, no melhor dos casos, revela quem ele é. Não o torna quem ele é. Ele é quem é antes do pacto e sem o pacto. Essa perspectiva expõe a blasfêmia de toda aquela estrutura que relega os milagres à autenticação, e que os vincula a uma suposta classe de dons que agora expiraram. Tratar a cura apenas como um sinal que prova uma nova doutrina, enquanto se recusa a vê-la como um benefício concedido ao homem, é pensar em categorias estranhas às Escrituras. Isso despoja Deus de sua natureza revelada, reduz a misericórdia a um emblema temporário e transforma sua compaixão em um adereço teatral para uma temporada que supostamente terminou. Tal ensino caricatura Deus em vez de magnificá-lo. Ele reformula o Senhor da glória em um contrarregra que só curou para preparar o cenário para os apóstolos, e que depois se aposentou assim que a cortina caiu. Isso é absurdo, e trai uma profunda alienação do Deus das Escrituras.
A tentativa de espiritualizar a cura destrói a si mesma. O Novo Testamento recusa-se a permitir isso. Mateus refere a profecia de Isaías às curas físicas de Jesus, dizendo que ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças. Ler isso como figurativo, como se o Espírito quisesse dizer fraqueza moral ou a mancha da culpa, é arrancar o texto do próprio contexto no qual os atos de Cristo lhe deram significado concreto. Se alguém espiritualiza onde a Bíblia fala de condições corporais, então a mesma liberdade poderia ser tomada ao inverso, e toda questão espiritual poderia ser forçada em termos corporais. As palavras deixariam de carregar definição, e o contexto perderia toda a função. No entanto, mesmo essa manobra falharia, porque a própria Escritura une os dois juntos. A redenção abrange tanto o corpo quanto a alma. O perdão e a cura são benefícios unidos que não podem ser tratados como alheios um ao outro.
Jesus é o salvador tanto do espírito quanto do corpo. Seu sofrimento foi uma oferta completa, nunca segmentada para se aplicar apenas a uma parte do homem. A mesma cruz que realizou a justificação também garantiu a cura. O mesmo sangue que remove a culpa também liberta da maldição da doença. Negar uma enquanto se confessa a outra é mutilar a redenção e apresentar um Cristo distorcido. Os apóstolos rejeitaram tal fragmentação de forma absoluta. Eles pregaram um evangelho completo de perdão, cura, libertação e vida eterna, porque o próprio Redentor é completo e indivisível. Toda bênção repousa sobre sua natureza e obra, não sobre o fluxo e refluxo das teorias humanas.
A tentativa de classificar a cura como um dom temporário ou uma credencial expirada é mais do que um erro inofensivo. Ela se torna heresia no sentido mais pleno. Negar as bênçãos físicas da redenção é negar a própria redenção. Isso reescreve a expiação de modo que Cristo carregou os pecados, mas deixou a doença sem ser abordada, como se ele tivesse morrido pela culpa, mas ignorado a maldição, e como se tivesse conquistado a morte, mas deixado a doença sem contestação. Tal negação substitui o evangelho por outro, e, ao fazer isso, enfraquece tudo o que toca. Ela proclama um Cristo que salva a alma, mas abandona o corpo, retratando-o como um redentor que perdoa, mas não restaura, ou um Senhor que justifica, mas deixa o seu povo sob o tormento da aflição. Esse é um Cristo falsificado, estranho às Escrituras. É uma fabricação e uma falsificação. Qualquer um que pregue tal falso evangelho é, por definição, um anticristo.
Os infiéis dizem a si mesmos que estão guardando a ortodoxia, mas, ao rejeitarem a redenção e a natureza de Deus, eles caem no serviço de Satanás. Eles agem como seus porta-vozes, repetindo a mentira de que Deus se retirou e não mais demonstra misericórdia ou estende seus benefícios. Sua doutrina inevitavelmente implica que Deus não mais age de acordo com sua própria natureza, ou que sua natureza mudou. Mas, se sua natureza pode mudar, então ele nunca foi Deus em primeiro lugar. Eles funcionam como arautos da incredulidade, falando com a voz de Satanás e carregando sua mensagem. Receber seu ensino é sentar-se aos pés de um demônio, alguém que carrega o nome de teólogo, mas fala com a voz da serpente. Sua mensagem substitui Cristo por outro salvador. A Escritura os julga por sua doutrina. Ela os expõe como maus, posicionando-se como inimigos de Cristo e arautos de Satanás.
Não esqueça de todos os seus benefícios. Lembrar-se deles é confessar o que Deus é. Ele é aquele que perdoa todos os seus pecados e cura todas as suas doenças, que resgata a sua vida da sepultura e o coroa de amor leal e misericórdia. Essas são expressões constantes de sua natureza, nunca confinadas a eras passageiras de revelação. Diminuí-las é diminuí-lo, esquecer quem ele é e o que ele declarou ser. Confessá-las é adorá-lo como ele verdadeiramente é, reconhecer a plenitude de seu caráter e receber a salvação que ele realizou em Cristo.
A teologia cristã deve rejeitar todo esquema que confine a cura ao passado, aos dons ou às provas. Ela deve reconhecer que a redenção é abrangente. Os benefícios são intrínsecos à natureza de Deus, e Cristo realizou uma salvação indivisa para o espírito e o corpo. Qualquer coisa menos que isso é blasfêmia. Tal distorção se apresenta como ortodoxia, mas não tem verdade nela. Na prática, ela nega a cruz e a esvazia de poder. Por sua própria natureza, ela trai o Redentor. O verdadeiro evangelho recusa tais distorções. Ele proclama o Senhor como ele é: o curador, o salvador, o provedor, o juiz justo, o Deus eterno cujo nome e natureza permanecem inalterados. Confessá-lo corretamente é confessar a cura assim como o perdão, a abundância assim como a justiça, a vida em todos os aspectos assim como a vida eterna. Esta é a sua natureza e os seus benefícios, e este é o Cristo que a fé recebe.
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