A Cura e o Pecado do Homem

Não peque mais, para que nada pior lhe aconteça. (João 5:14)

Em Jerusalém, havia uma piscina perto da Porta das Ovelhas, onde muitos doentes se reuniam, na esperança de recuperação. Entre eles, jazia um homem que era inválido havia trinta e oito anos. Ele acreditava que o movimento da água poderia trazer cura, mas não tinha ninguém para ajudá-lo a chegar até ela a tempo. Quando Jesus o viu, perguntou-lhe se ele queria ficar curado. O homem explicou sua impotência, mas Jesus simplesmente lhe ordenou que se levantasse, pegasse sua maca e andasse. Instantaneamente, ele foi curado. Como isso aconteceu no sábado, os líderes judeus o confrontaram, mas ele nem sabia quem o havia curado. Mais tarde, Jesus o encontrou no templo e lhe deu um solene aviso: “Pare de pecar ou algo pior poderá lhe acontecer.”

A maioria das pessoas imagina que a cura divina funcione dessa maneira. Elas supõem que Deus, agindo por soberania oculta, anda entre os doentes, escolhe um sem motivo, o cura e depois se afasta. A cura no tanque de Betesda pode ser mal interpretada para apoiar essa ilusão. Um homem que não buscava a Cristo, que nem mesmo o conhecia, de repente recebeu a cura por iniciativa direta de Jesus. Na verdade, foi um incidente excepcional, que se destaca do padrão usual do ministério de Cristo.

A cena em Betesda é impressionante. Uma multidão de inválidos cercava o tanque, na esperança de alívio. O homem que Jesus curou havia sofrido como inválido por trinta e oito anos, e ele permanecia junto ao tanque, convencido de que este poderia de alguma forma libertá-lo, se apenas ele o alcançasse no momento certo. Ele era passivo, resignado à sua fraqueza e dependente de circunstâncias externas. Jesus aproximou-se dele sem ser solicitado e ordenou-lhe que se levantasse. O milagre foi imediato e completo. Mas foi raro em sua forma. O homem não demonstrou fé evidente. Ele não expressou expectativa alguma de Cristo. Ele nem mesmo sabia quem era Jesus. Cristo iniciou tudo. A cura difere da grande maioria das curas nos Evangelhos.

Quando nos voltamos desse incidente isolado para o testemunho mais amplo das Escrituras, a diferença se torna clara. A maioria das curas ocorre quando as pessoas buscam a Cristo com fé. Os Evangelhos transbordam de exemplos. Homens cegos clamam: “Filho de Davi, tem misericórdia de nós!” Uma mulher se esforça para atravessar a multidão e tocar a orla do seu manto. Um pai suplica por seu filho atormentado. Amigos carregam o paralítico aos pés de Jesus, abrindo um buraco no telhado, se necessário. Caso após caso, os doentes ou seus companheiros se aproximam ativamente de Cristo com expectativa. Em resposta, Jesus repetidamente diz: “Sua fé o curou”, ou “Seja feito conforme a sua fé”. A ênfase é inconfundível. A cura está ligada à fé. Os doentes não são objetos passivos aguardando uma seleção arbitrária, mas buscadores ativos que confiam no poder de Cristo.

Isso não significa que atos soberanos de cura nunca ocorram. A Escritura afirma que, às vezes, Jesus interveio diretamente, como em Betesda. Mas, porque a maioria das curas ocorre por meio de uma fé ativa, essas curas soberanas servem como instâncias adicionais, em vez de substitutas, do princípio da fé. Elas aumentam o número total de curados, em vez de restringi-lo. Se há algo, elas confirmam a abundância do poder de Deus. Deus cura em resposta à fé quase todo o tempo, e ele às vezes cura por iniciativa soberana, de modo que os fluxos de milagres juntos exibam a plenitude da generosidade divina. Imaginar que apenas o modelo de Betesda se aplica é ignorar os milhares de outras curas que seguem o princípio da fé.

Após a cura, Jesus mais tarde confrontou o homem com um aviso sério: “Olhe, você está curado! Não peque mais, para que algo pior não lhe aconteça”. Essas palavras desconstroem outro equívoco comum. Muitos presumem que, se uma cura vem de Deus, ela deve ser permanente, independentemente de como o recipiente vive ou no que ele acredita. Mas Jesus falou de forma diferente. Ele revelou que a cura pode ser perdida. O pecado pode atrair algo pior do que a condição original. A implicação é que o homem carrega responsabilidade após receber a cura. O dom de Cristo não deve ser tratado com leviandade, como se alguém pudesse retornar a uma vida de pecado ou incredulidade sem consequências.

Essa advertência não se referia a falhas comuns, pois todo crente tropeça de muitas maneiras. Pelo contrário, Jesus estava se dirigindo a um estilo de vida de rebelião, um padrão de pecado que atrai o juízo. O homem havia vivido trinta e oito anos em enfermidade, e sua condição pode ter estado ligada à sua conduta anterior. Jesus o curou livremente, mas depois o exortou a abandonar o pecado, para que não lhe sobreviesse um fardo ainda mais pesado. A doença não é apenas um problema médico, mas também moral e espiritual. O pecado e a incredulidade podem abrir a porta para a doença, enquanto a fé e a obediência protegem a saúde.

A cura é um dom de Deus, mas a resposta do homem importa. A fé a recebe, e a fé a preserva. O pecado pode interrompê-la, e a incredulidade pode desfazê-la. A soberania divina não elimina a responsabilidade humana. Pelo contrário, a soberania de Deus é a razão pela qual o homem é responsável, pois é o próprio Deus quem declarou que a fé e a obediência são requeridas. Apelar à soberania divina como desculpa para a passividade ou a incredulidade é distorcer a verdade. A soberania de Deus nunca anula a responsabilidade, mas a estabelece.

A piscina de Betesda é a exceção, não o padrão. O padrão usual é que Deus nos ordena crer em sua palavra e agir de acordo com ela. Aqueles que imaginam que podem esperar passivamente e esperar por um toque soberano estão recusando o testemunho das Escrituras. Eles fingem honrar a soberania de Deus, mas na verdade a negam, porque ignoram a maneira como Deus escolheu exercer sua vontade. A soberania de Deus inclui seu mandamento de que os homens creiam. Nunca é a soberania de Deus que retém, pois Deus nunca quebra soberanamente suas promessas, mas é a incredulidade que recusa a palavra de Deus.

A cura ainda segue os princípios bíblicos. Deus às vezes intervém de maneiras soberanas, mas na maioria das vezes ele espera que os homens busquem a Cristo pela fé. É por isso que a tentativa de desculpar a incredulidade apelando para a soberania divina é tão destrutiva. Ela treina as pessoas a pensarem que não têm obrigação de crer, que a doença é inevitável e que a cura é arbitrária. O resultado é resignação em vez de fé, desculpa em vez de expectativa. Mas Jesus nunca permitiu desculpas. Quando as pessoas alegavam fraqueza, ele as repreendia e exigia fé. Quando tremiam de medo, ele lhes ordenava que cressem.

O milagre de Betesda nos mostra ambos os lados: a intervenção soberana de Deus como um desvio da norma, e a responsabilidade permanente que se segue. O homem foi curado sem buscar a Cristo, mas depois Cristo exigiu que ele vivesse de acordo com a palavra de Deus. O milagre foi gratuito, mas foi um chamado para andar em fé e obediência. A passagem confirma tanto a generosidade de Deus quanto a responsabilidade do homem. Ela nega que a cura seja arbitrária ou que permaneça permanente independentemente da fé e da conduta. Não é que devemos ganhar nossa saúde por nossa santidade, de jeito nenhum. Mas uma pessoa é capaz de se ferir batendo na cabeça com um martelo repetidamente, e isso é pecado e incredulidade.

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Healing and Man’s Sin ↗