Quando a Tua Luz É Trevas

Portanto, veja se a luz que há em você não é escuridão. (Lucas 11:35)

Quando Jesus pronunciou essas palavras, ele acabara de contar uma parábola sobre o olho como a lâmpada do corpo. Ele explicou que, quando o olho está saudável, todo o corpo fica cheio de luz, mas, quando está doente, o corpo fica cheio de trevas. A ilustração chama a atenção para a percepção e a orientação. O olho determina o que entra, e assim o estado do olho determina se uma pessoa vive na luz ou nas trevas. Ao aplicar isso à alma, Jesus destaca que a condição moral e espiritual de uma pessoa depende de se o que ela recebe e segue é luz de Deus ou trevas do pecado e da falsidade. O aviso crítico é que as pessoas podem confundir trevas com luz. O perigo não é apenas a ausência de luz, mas a ilusão da falsa luz que convence a alma de que ela pode ver, quando na verdade está cega. Jesus exorta seus ouvintes a se certificarem de que a luz que eles afirmam possuir é real, porque, se o seu suposto esclarecimento for na verdade trevas, então toda a sua vida estará consumida pela ilusão.

O ponto se torna mais agudo quando nos lembramos de que Jesus falou ao alcance dos ouvidos das multidões, mas de uma maneira que atingia diretamente os líderes religiosos que se orgulhavam de seu conhecimento da lei e de suas tradições. Eles se consideravam iluminados e presumiam que os outros andavam nas trevas. Sua repreensão os expôs como guias cegos, pessoas cuja confiança era sua ruína. Isso não é um princípio abstrato, mas um ataque direto ao establishment religioso que resistia à palavra de Deus. O ensino permanece relevante, porque a mesma dinâmica continua sempre que a religião eleva suas próprias tradições acima da revelação e chama as trevas de luz.

A partir dessa base, podemos examinar as falsas luzes que prevalecem em grande parte da religião atual. A primeira é a luz da ortodoxia. A palavra sugere correção, e em si mesma poderia se referir a uma doutrina sólida. Mas na prática, muitas vezes significa a preservação de fórmulas, sistemas e identidades teológicas que são tomadas como marcas de verdade à parte do poder de Deus. Muitos usam o emblema da ortodoxia como sua luz. Eles apontam para suas confissões, suas denominações e seus credos como prova de que andam na verdade. No entanto, a palavra de Deus os julga de maneira diferente. A suposta luz da ortodoxia torna-se uma falsificação quando substitui a submissão direta às Escrituras. Uma coisa é confessar a verdade, outra é elevar a confissão como a verdade em si. Quando as pessoas se apegam à ortodoxia enquanto rejeitam a fé e o poder de Deus, elas abraçaram uma falsa luz que é trevas.

Intimamente relacionado é a luz do credo. Ao longo da história, a igreja produziu credos e catecismos que resumem a doutrina. Estes podem ser úteis como ferramentas, mas tornam-se perigosos quando são tratados como a própria substância da revelação divina. Sistemas inteiros de pensamento são agora construídos sobre a lealdade a documentos humanos, e gerações foram treinadas para medir toda a verdade por esses padrões humanos. O credo torna-se a luz, e a Escritura é interpretada através de sua lente. Isso inverte a ordem de autoridade. O evangelho não está preso a nenhum credo, e nenhum credo é igual à Escritura. No entanto, os homens reverenciam o credo como sua luz, e ao fazerem isso, confundiram a escuridão da tradição humana com a luz da revelação divina. O aviso de Cristo perfura sua ilusão: Portanto, cuidado para que a luz que está em seu interior não sejam trevas.

A tradição em si é outra forma dessa luz falsa. As pessoas religiosas frequentemente são mais devotadas aos costumes do que à verdade. Elas preservam rituais, cerimônias e hábitos teológicos com uma lealdade que supera sua devoção a Cristo. Essas tradições, no entanto, muitas vezes são os próprios instrumentos pelos quais a palavra de Deus é anulada. Jesus repreendeu os fariseus por deixarem de lado os mandamentos de Deus para guardar suas tradições, e a mesma traição continua onde quer que os costumes humanos sejam exaltados acima da revelação divina. A tradição alega brilhar como uma luz orientadora, mas ela leva os homens à cegueira. Valorizar a tradição como luz é abraçar as trevas enquanto se convence de possuir visão.

O diagnóstico é grave. O que as pessoas exibem como luz é, na verdade, uma relíquia do fracasso. Cada credo que se endurece em um ídolo, cada ortodoxia que se torna um fim em si mesma, cada tradição que sufoca a fé não é um monumento à verdade, mas à incredulidade. Isso testemunha a recusa dos homens em aceitar Deus em sua palavra. A história da religião está repleta de tais relíquias, preservadas como se fossem tesouros, mas na realidade elas registram os fracassos de gerações em andar pela fé no poder de Deus. Elas são museus da derrota, decorados por homens que confundem a preservação humana com a revelação divina. Apegar-se a elas é celebrar a própria escuridão contra a qual Jesus advertiu.

Ainda mais, tal lealdade equivale a uma traição espiritual. A fidelidade a credos, ortodoxia e tradições no lugar da palavra de Deus é uma traição a Cristo. Ele exige fé em sua palavra, mas os homens se comprometem com sistemas humanos. Ele chama à obediência aos seus mandamentos, mas eles se curvam às autoridades denominacionais. Ele brilha como a verdadeira luz, mas eles preferem as luzes falsificadas de sua herança religiosa. Isso é traição contra o Senhor da verdade, uma transferência de lealdade de Cristo para o homem. Chamar as trevas de luz em nome da ortodoxia ou tradição é se posicionar contra o próprio Cristo que advertiu contra esse engano.

Jesus não apresentou o seu aviso como uma sugestão. A responsabilidade recai sobre cada pessoa para se certificar de que aquilo que ela chama de luz é verdadeiramente luz. As consequências são eternas, porque confundir trevas com luz é viver e morrer no engano. Aqueles que depositam sua confiança na ortodoxia religiosa, em credos e em tradições construíram uma falsa luz que os cega para a verdade da palavra de Deus. Suas vidas podem parecer religiosas e sua fala pode soar piedosa, mas sua lealdade está mal colocada, e sua confiança é condenada.

Jesus sozinho é a luz do mundo, e sua palavra sozinha ilumina a alma com a verdade. Andar em sua luz significa receber sua palavra como autoridade final e viver pela fé em seu poder. Isso requer uma ruptura decisiva com as luzes falsificadas da tradição e do credo. Exige a coragem de rejeitar o que os homens chamam de ortodoxia quando isso contradiz a fé das Escrituras. Demanda uma lealdade a Cristo que recusa toda luz rival. Somente dessa forma podemos cumprir o mandamento de Jesus e garantir que a luz em nós seja verdadeiramente luz e não trevas.

📖 Artigo original:

When Your Light Is Darkness ↗