Política: Esperando um Cristo Diferente

João Batista ouviu na prisão o que Cristo estava fazendo e enviou seus discípulos para lhe perguntar: “És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar outro?” Jesus respondeu: “Voltem e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos veem, os aleijados andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e as boas novas são pregadas aos pobres. E feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa.”

Essa troca destaca o problema de forma nítida. João se concentrou no que Deus não estava fazendo. Ele esperava a libertação da escravidão política e a derrubada de governantes injustos, mas sua expectativa foi frustrada. Jesus respondeu não lhe dando esperança de libertação política, mas apontando para o que Deus estava fazendo no ministério do reino. A evidência da obra de Deus não estava em reformas políticas, mas no poder do Espírito, em curas, em milagres e na pregação do evangelho. Ofender-se com isso é rejeitar Cristo em favor de outro. Abraçar isso é aceitá-lo como o verdadeiro Cristo, cujo ministério é exatamente o que as Escrituras predisseram.

Ao longo dos Evangelhos e Atos, vemos que João não estava sozinho em sua expectativa. Muitos em Israel esperavam um Cristo que restaurasse a nação politicamente. Após Jesus multiplicar os pães e alimentar a multidão, o povo exclamou que ele devia ser o profeta que viria ao mundo, e então tentaram tomá-lo à força e fazê-lo rei. Seu desejo era transformar o ministério dele de poder espiritual em uma ferramenta de poder nacional e político. Eles o viam como um meio para avançar sua causa contra Roma, em vez de como o Cristo que veio estabelecer o reino de Deus por meio de doutrina e milagres.

Até os seus discípulos carregavam essa expectativa. No caminho para Emaús, após a crucificação, os discípulos confessaram: “e nós esperávamos que era ele que ia trazer a redenção a Israel”. Eles interpretavam a redenção em termos de libertação política, e a sua morte parecia-lhes destruir essa esperança. A ressurreição ultrapassou as expectativas deles, pois sinalizava uma vitória muito maior do que eles antecipavam, mas de uma natureza diferente da que eles exigiam. Os próprios apóstolos, após quarenta dias de instrução do Senhor ressuscitado, perguntaram-lhe: “Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino a Israel?”. Eles ainda estavam preocupados com a restauração política, mas Jesus os redirecionou para o poder real que marcaria a missão deles: “Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra”. Eles buscavam um reino nacional, mas Jesus lhes deu o reino de Deus com autoridade espiritual para pregar e realizar milagres.

A Entrada Triunfal reflete a mesma expectativa. As multidões clamavam: “Hosana ao Filho de Davi”, invocando a libertação real. A palavra “Hosana” vem de um apelo por salvação, e em seus lábios carregava os tons de resgate imediato por meio de um rei davídico. Essa expectativa correspondia ao medo dos líderes judeus, que disseram: “Se o deixarmos continuar assim, todos crerão nele, e os romanos virão e tirarão tanto o nosso lugar como a nossa nação”. Sua ansiedade não era apenas sobre as multidões, mas sobre o fervor messiânico que Roma interpretaria como rebelião política e militar. Todo o ambiente girava em torno de Roma, e muitos esperavam por um Messias que salvasse Israel pelo poder nacional.

Contra esse pano de fundo, Jesus consistentemente definiu seu ministério como algo superior, espiritual e milagroso. Ele repreendeu Pedro por “pensar nas coisas dos homens em vez de nas coisas de Deus”. A distinção que ele traçou é decisiva. As coisas de Deus são o evangelho, a revelação da verdade e o poder milagroso do Espírito. As coisas dos homens são a política, as estruturas nacionais e os esquemas governamentais. Jesus não estava descartando essas coisas como sem valor, mas estava deixando claro que elas não pertencem ao mesmo nível de seu ministério. O exemplo de Paulo demonstra isso. Ele usou sua cidadania romana para evitar punição ilegal, e exortou os cristãos a orar pelos reis para que houvesse paz na qual o evangelho pudesse avançar. Esses foram usos instrumentais da política, não uma redefinição da política como evangelho. Paulo nunca defendeu elevar a reforma política ao lugar da missão espiritual.

O mesmo princípio se aplica à forma como construímos nossa teologia. Algumas pregações se constroem com base no que Deus não está fazendo. Elas se centram em reclamações sobre a ausência de libertação política, enchendo os sermões com lamentos sobre governos, políticas e declínio nacional. Isso é incredulidade, pois exige de Cristo o papel de um libertador político e depois se ofende quando ele não o cumpre. A verdadeira teologia se constrói com base no que Deus está fazendo. Ela se alegra nas obras que o próprio Cristo destacou: conversões, curas, libertações, a proclamação do evangelho. Aqueles que constroem sua mensagem sobre os fracassos da política perdem a presença de Cristo. Aqueles que a constroem sobre o poder dos milagres o veem como ele é.

Os profetas abordavam a política, mas faziam isso declarando a palavra de Deus. Em Israel, política e religião frequentemente se misturavam, mas os profetas nunca confundiam identidade nacional com identidade espiritual. Seu padrão era sempre a revelação. Quando falavam a nações estrangeiras, não apelavam para tradições fundadoras ou documentos cívicos, mas as confrontavam com a autoridade de Deus. Pregavam a reis e povos da mesma forma e julgavam os erros políticos como rebelião espiritual. Sua confrontação era teológica, não partidária. Eram pregadores, não ativistas.

Apelando para a sua doutrina da graça comum e do mandato cultural, há aqueles que imaginam que a política e a cultura são tão espirituais quanto o evangelho, e que fazer campanha e ativismo têm o mesmo peso que pregar e realizar milagres. Isso é uma substituição do carnal pelo espiritual. A política pode ser útil se favorecer o evangelho, mas nunca é o evangelho. Ela não merece o esforço que muitos despendem nela. A identidade cristã é espiritual, enraizada em Cristo e no seu reino, em vez de na afiliação nacional ou cultural.

Quando cristãos tentam capturar Jesus para a política, eles repetem o erro daqueles que tentaram fazê-lo rei à força. Eles se apresentam como lutando pelo seu reino, mas na verdade o exploram e o usam como mascote para sua ideologia. Eles se dedicam a ganhar votos e assegurar políticas, enquanto negam ou até perseguem aqueles que proclamam cura, milagres e o batismo do Espírito. Isso é uma perversão anticristo porque rejeita as próprias obras que definem o ministério de Jesus, enquanto exige dele um papel que ele nunca assumiu.

A verdadeira medida da presença de Deus não é a reforma política, mas o poder divino. A política é poder humano; os milagres são poder divino. Se perguntarmos onde Deus está agindo, a resposta é no evangelho sendo pregado com convicção e acompanhado por curas e milagres. Essa é a agenda do céu. Olhar para outro lugar é ofender-se com Cristo.

A expectativa de um Cristo político era uma tentação recorrente em Israel, e continua sendo uma tentação recorrente na igreja. Mas o Cristo que veio é o Cristo que as Escrituras prometeram: aquele que cura os doentes, ressuscita os mortos, perdoa pecados e proclama liberdade aos cativos. Ele é o Cristo espiritual. Exigir outro Cristo, um Cristo político, é rejeitar o real e esperar um Cristo diferente por completo. Mas há apenas um Cristo, e não há salvação em nenhum outro.

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Politics: Expecting a Different Christ ↗