Evangelismo e o Anseio de Deus em Salvar
O evangelho revela um Deus que está ansioso por salvar. Ele demonstra misericórdia livremente e sem relutância, estendendo bondade sem esperar que os seres humanos satisfaçam condições religiosas. Ele chama todas as pessoas em todos os lugares para se arrependerem e crerem no evangelho, e está disposto a receber qualquer um que invoque o nome de Jesus. O evangelismo anuncia essa ânsia. Ele declara que o Pai já correu ao encontro do pecador que se volta para ele, em vez de apresentar a salvação como uma tentativa de persuadir um Deus hesitante.
Em todas as gerações, os métodos de evangelismo têm sido contestados. Alguns argumentam contra o apelo ao altar, a oração do pecador ou outras expressões de decisão imediata. Suas críticas podem levantar alguns pontos válidos, pois é inegável que muitas pessoas professam fé sem uma verdadeira conversão. Há casos em que palavras são repetidas sem compreensão, ou onde o impulso emocional toma o lugar da fé genuína. A existência de falsos convertidos é real e merece ser reconhecida.
Mas a maneira como esses críticos usam essa verdade expõe algo mais grave. A realidade das falsas conversões torna-se uma arma em suas mãos contra aqueles que se esforçam sinceramente para proclamar Cristo. O que eles apresentam como preocupação teológica frequentemente funciona como uma desculpa para um evangelismo fraco ou negligência completa. Advertências intermináveis sobre conversões superficiais fluem deles, no entanto, seus ministérios não produzem conversões alguma. Das margens, eles afirmam proteger a igreja do erro, embora na realidade racionalizem sua própria esterilidade.
Há ironia nessa postura. Os pregadores que eles denunciam podem de fato reunir alguns falsos convertidos, mas também reúnem muitos, muitos mais convertidos verdadeiros. Eles trazem multidões para o reino de Deus, enquanto seus críticos labutam em esterilidade e então disfarçam a improdutividade como profundidade espiritual. Um método que produz milhares de crentes genuínos, mesmo com alguns que mais tarde se afastam, é preferível ao ministério que não produz crente algum. O crítico exagera a possibilidade de uma fé falsa para ocultar sua própria falta de qualquer fruto, como se zero fosse um resultado superior a uma grande colheita misturada com algum joio.
Esse desequilíbrio já é exposto nas Escrituras. Paulo observou que alguns pregavam Cristo por inveja e rivalidade, e outros de boa vontade. Ele não defendeu seus motivos, mas alegrou-se porque Cristo era proclamado. O crítico de hoje faz o oposto. Ele lamenta quando Cristo é pregado, e celebra quando o fervor evangelístico é suprimido. Ele prefere o silêncio à proclamação, o vazio ao fruto, porque sua inveja é maior que seu zelo pelo evangelho.
A oração do pecador não é o problema. Chamar pelo Senhor é a marca bíblica da salvação. A Escritura diz que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. O ladrão na cruz apenas disse “lembra-te de mim”, e Jesus lhe garantiu o paraíso. Confessar que “Jesus é Senhor” é suficiente para receber a justiça e a salvação. Essas são orações curtas, mas carregam um significado eterno porque são dirigidas ao próprio Cristo. Os críticos que desprezam a oração do pecador esquecem que todo verdadeiro convertido é salvo por algum tipo de confissão verbal de fé, por mais breve ou simples que seja.
Além disso, a Bíblia usa exatamente a linguagem que muitos críticos de hoje rejeitam. Alguns insistem que nunca devemos convidar uma pessoa a pedir que Jesus entre em seu coração. No entanto, a própria Escritura diz que Cristo habita em nossos corações mediante a fé, e que Deus enviou o Espírito de seu Filho ao nosso coração, o qual clama: “Aba, Pai”. Proibir essa forma de falar não é apenas um diagnóstico falso do evangelismo moderno, mas também uma contradição direta do evangelho. Quando eles condenam a oração do pecador, condenam o que é legítimo. É difícil dizer qual partido é o maior ofensor, aquele que ora sem sinceridade, ou aquele que ensina contra a oração de modo algum, mas é evidente qual deles é o mais hipócrita e farisaico.
Alguns promovem um modelo de busca no qual a conversão é vista como um longo processo de indagação, oração e investigação. É verdade que, se uma pessoa não compreende imediatamente o evangelho, ela deve continuar a buscar em vez de desistir. Não há nada de errado com uma reflexão contínua se a mente ainda não estiver convencida. No entanto, assumir que esse deve ser o caminho esperado distorce o evangelho. O filho pródigo não vagou por anos fora da cidade antes que o pai o deixasse entrar. O pai o viu de longe e correu para abraçá-lo. Em muitos casos, talvez até na maioria deles, a salvação é imediata, porque Deus está ansioso para salvar. A ideia de uma busca prolongada como norma apresenta o Pai como relutante em receber seus filhos, quando na verdade ele corre ao encontro deles.
Essa ânsia de Deus expõe outra camada de hipocrisia. O filho mais velho na parábola permaneceu na casa, mas nunca conheceu a generosidade do pai. Ele se ressentiu da festa que celebrava o retorno de seu irmão. Sua dureza de coração revelou que ele não entendia o amor do pai, mesmo vivendo na casa do pai. Essa é a imagem de muitas igrejas tradicionais. Elas repreendem a alegria da salvação, criticam a festa e condenam aqueles que se alegram quando pecadores voltam para casa. Elas pensam que parecem filhos fiéis, mas seu ressentimento prova que nunca provaram da graça do pai.
A mesma dinâmica se desenrola nos críticos dos métodos evangelísticos. Eles repreendem os outros por supostas conversões baratas, mas sua própria rejeição da generosidade de Deus mostra que talvez eles mesmos nunca tenham sido convertidos. Sua dureza de coração contra a festa do Pai é sua própria condenação. Eles falam contra as chamadas ao altar e as orações do pecador, mas na verdade desprezam a realidade da misericórdia de Deus. Eles se ofendem porque a festa está aberta ao pródigo, e inventam doutrinas para justificar sua ofensa.
A própria Escritura oferece exemplos de evangelismo que foi falho no método, mas frutífero no resultado. Jonas pregou relutantemente a Nínive, entregando apenas um aviso conciso e sem entusiasmo. Ele não explicou a misericórdia de Deus, nem desejava a salvação deles. No entanto, toda a cidade se arrependeu, do rei ao mais humilde servo. O método de Jonas era deficiente, sua atitude corrupta, mas o anseio de Deus em salvar produziu uma conversão em massa.
Paulo observou em Filipenses que alguns pregavam Cristo por inveja e rivalidade, tentando afligi-lo enquanto ele estava na prisão. Suas motivações eram más, mas sua mensagem ainda carregava o poder de Deus. Paulo se alegrava com a pregação deles porque o evangelho era proclamado, e ele sabia que Deus o usaria para salvar. Os críticos de hoje se assemelham ao oposto de Paulo. Ele se alegrava que Cristo fosse pregado mesmo a partir de motivações impuras. Eles lamentam quando Cristo é pregado mesmo a partir de motivações sinceras. Sua fé via a ânsia de Deus; sua incredulidade vê apenas problemas.
Esses exemplos revelam a diferença entre uma mente bíblica e uma hipócrita. A mente bíblica reconhece que o evangelismo imperfeito ainda pode produzir fé genuína. A mente hipócrita usa as imperfeições como desculpa para suprimir o evangelismo por completo. Deus salva apesar da fraqueza dos homens, porque sua ânsia supera suas falhas.
A hipocrisia religiosa prospera por meio da inversão. O pregador estéril condena o frutífero. O filho mais velho, autodenominado justo, condena o pródigo. O crítico do evangelismo condena a própria palavra de Deus. O padrão se repete ao longo da história. Aqueles que não produzem convertidos encontram satisfação em condenar aqueles que o fazem, e imaginam que essa postura prova seu discernimento e ortodoxia. Mas, na verdade, isso prova sua cegueira.
O evangelho não é uma mensagem de relutância, nem um convite para buscar incessantemente sem garantia de chegada. É a declaração de que Deus agiu em Jesus Cristo para salvar pecadores, e de que todo aquele que o invoca será recebido. Evangelizar é proclamar essa ânsia e convocar os homens para o banquete. Aqueles que proíbem a oração do pecador, que se opõem a invocar Jesus do coração, que criticam todo método que dá frutos, não são guardiões da verdade, mas inimigos do evangelho. Eles fazem seu diagnóstico soar discernidor, mas contradizem a Escritura e revelam sua própria incredulidade.
O evangelismo não é aperfeiçoado ao ceder às suas reclamações. Ele é fortalecido ao refinar os métodos enquanto se apega firmemente ao anseio de Deus por salvar. O chamado da igreja não é suprimir o zelo, mas dirigi-lo corretamente, de modo que tanto a mensagem quanto o método honrem o evangelho. Aqueles que pregam a Cristo, por mais fracos que sejam, estão alinhados com o Pai que corre ao encontro do filho pródigo. Aqueles que suprimem o evangelismo, por mais orgulhosos que sejam, assemelham-se ao filho mais velho que desprezou a festa. O perigo real não é que alguns convertidos se afastem, mas que os críticos permaneçam endurecidos e cegos.
A igreja deve, portanto, condenar os próprios críticos. Sua hipocrisia é pior do que as falhas que eles denunciam. Eles são estéreis, autojustos e hostis à palavra de Deus. Eles distraem os outros do banquete e negam a ânsia do Pai em salvar. Contra eles, o evangelho proclama que Jesus Cristo é Senhor, que a salvação está próxima e que Deus se deleita em perdoar. Todo aquele que invoca o seu nome será salvo, seja por uma longa oração ou por um clamor tão breve quanto “lembra-te de mim”.
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