Cura Gnóstica

Os primeiros inimigos do evangelho foram aqueles que negavam que Cristo havia vindo em carne. Eles alegavam que o Filho eterno não poderia ter entrado em um corpo, porque a matéria era inferior à divindade. Eles imaginavam a salvação como uma libertação do reino físico para um estado espiritual superior. Esses mestres não estavam simplesmente equivocados; eles carregavam o espírito do anticristo. João escreveu que todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus, e todo espírito que não confessa Jesus não é de Deus. Ele insistiu que esse erro era mais do que um defeito menor. Era a presença de um espírito hostil que corrompia a igreja e ameaçava a própria essência do evangelho.

Por mais de mil e quinhentos anos, teólogos têm se congratulado por terem derrotado o gnosticismo. Eles reservam o termo para um dos piores insultos em seu vocabulário. Eles o usam contra qualquer um que pareça espiritualizar a encarnação ou a expiação, acusando-os de tendências gnósticas. No entanto, eles são culpados exatamente daquilo que condenam. Eles insistem na encarnação na carne, mas negam a cura da carne. Eles declaram que Cristo veio corporalmente, mas afirmam que suas promessas de cura se aplicam apenas de forma figurativa. Eles tratam suas palavras e milagres como símbolos de consolo interior, em vez de declarações do que ele realiza no corpo. Se a antiga heresia negava que Cristo entrou na carne, a versão posterior nega que Cristo cura a carne. Ambas exibem a mesma suspeita: que Deus é santo demais para se preocupar com o corpo, e que é indigno do homem esperar cura física dele.

Isso expõe a hipocrisia deles. Por séculos, eles têm lançado o rótulo de gnosticismo sobre os outros sempre que julgam um ensino como algo que dilui a realidade corporal da encarnação ou da expiação, no entanto, eles mesmos cometem a mesma traição com respeito à cura. Eles condenam os outros por espiritualizarem a encarnação de Cristo, mas eles espiritualizam as obras de cura dele como se fossem metáforas para paz interior e renovação, em vez de realidades do corpo. Pela sua própria regra, eles estão condenados, culpados da mesma heresia que alegam ter derrotado. Eles se apresentam como defensores da ortodoxia, mas na prática preservam o espírito do gnosticismo, despojando as promessas de Deus de seu significado e efeito físico. O resultado é um evangelho mutilado e confinado ao reino interior, uma mensagem que nunca toca a doença humana ou alivia a dor humana. Eles exibem seu erro como ortodoxia, mas é a mesma filosofia de desprezo pelo corpo que animava a antiga heresia.

O testemunho das Escrituras se opõe a eles. Isaías anunciou que o Servo tomaria sobre si as nossas enfermidades e levaria as nossas doenças. Mateus aplicou isso diretamente às curas de Cristo. Pedro escreveu que por suas feridas fostes curados. A mesma passagem aborda tanto o espiritual quanto o físico. A expiação não resgata apenas a alma, deixando o corpo abandonado. Ela redime o homem em sua totalidade. A cruz aborda as consequências do pecado em todas as suas formas, incluindo a doença e a morte. Separar o perdão da cura é dividir o que Deus uniu. Reduzir a cura a uma metáfora é seguir a mesma filosofia mística que negou a encarnação. O evangelho não é uma coleção de símbolos, mas uma realidade consumada, e ele toca o corpo assim como a alma.

O apóstolo ordenou aos seus leitores que testassem os espíritos. A questão era se o espírito confessava que Jesus Cristo viera em carne. Esse teste ainda se aplica, mas também se estende aos benefícios da obra de Cristo. Agora devemos perguntar se o ensino confessa que Jesus Cristo nos curou na carne. Se a resposta for não, então o mesmo espírito do anticristo está presente. Ele mudou de forma, mas não de essência. Em uma era, dizia que Cristo não poderia vir em carne. Em outra, diz que Cristo não curará na carne. Em ambos os casos, nega a extensão da obra redentora de Deus e confina o evangelho ao reino espiritual.

Este assunto exige mais do que uma troca educada ou um debate acadêmico. A igreja antiga tratava o gnosticismo como heresia, e não como uma opinião inofensiva. O mesmo julgamento é exigido hoje. Professores que negam a cura posicionam-se como anticristos que se opõem à obra de Cristo, e não como irmãos equivocados. Sua mensagem carrega a influência de demônios, e não a voz do Espírito. Paciência ou deferência para com eles insulta a cruz. Eles já desperdiçaram séculos repetindo o mesmo erro em novos termos. O evangelho exige a rejeição do erro, o expõe abertamente para ser desmascarado e pronuncia a condenação sem indulgência.

Ao mesmo tempo, os crentes não precisam temer esses mestres. João lembrou aos seus leitores que eles haviam vencido os falsos profetas, porque maior é o Espírito que está neles do que os espíritos que estão no mundo. A mesma certeza vale hoje. O Espírito Santo testifica em nós que a obra de Jesus inclui a cura. Ele não apenas dá testemunho do perdão, mas também confirma que pelas feridas de Cristo fomos curados. Ele dá vida ao corpo mortal e demonstra que a redenção não se limita ao espiritual. Contra esse testemunho, as vozes da incredulidade não podem prevalecer. O Espírito de Deus em nós é maior do que os demônios contrários à cura e mestres que nos cercam.

A etiqueta do gnosticismo pertence a eles. Eles odeiam o termo porque ele os lembra de um dos erros mais vergonhosos na história da igreja. No entanto, ele se encaixa mais na doutrina deles do que nos alvos que eles acusam. Eles se tornaram aquilo que desprezam. Eles acusam os outros de espiritualizar, enquanto eles mesmos despojam as promessas de Deus de sua realidade corporal. Eles condenam o gnosticismo em palavras, mas na prática promovem a mesma filosofia. Eles são os representantes modernos da própria heresia que afirmam se opor.

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Gnostic Healing ↗